Os pobres com dinheiro

Innovo/Divulgação
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Uma de minhas filhas faz balé numa das principais academias de Brasília.

No último domingo, houve a apresentação de meio de ano.

Não entendo nada de balé – a não ser de babar quando minha pequena se apresenta -, mas penso que que não é como um show de música ou partida de futebol, em que a plateia ou torcida fica berrando o nome de quem está no palco ou no campo.

Luz apagada, concentração das/dos bailarinas/bailarinos para começar o número e então lá vem uma saraivada de gritos da plateia (ou torcida?): “Carol! Vai Tati! Dá-lhe, Mariana! Arrebenta, Pedro!”.

Impossível não abalar a concentração de quem está no palco, por menos que seja. E a histeria se repetiu a cada apresentação de turma.

Depois de cada apresentação, normal gritar. Eu também gritei o nome da minha filha. Antes, no entanto, penso que é um espetáculo que merece uma certa reverência, uma certa cerimônia e solenidade antes de começar.

A elite brasileira – e a plateia era formada senão na totalidade, na maioria pela elite da capital do país – pode ter instrução (bons níveis de escolaridade), mas, a julgar pelo comportamento de domingo, me parece cada vez maior sua distância de certos gêneros artísticos e expressões culturais tão importantes para a formação do pensamento humano (artes plásticas, teatro e cinema com conteúdo crítico, literatura…).

Daí se comportar num espetáculo de balé como se estivesse num torneio de handebol na escola, num show de música sertaneja ou em um de pagode. Ok, num de Rock também (fora os que chegam atrasados e ficam parados escolhendo lugar, como se não houvesse ninguém sentado atrás querendo assistir).

É de se pensar naquela boa frase: são tão ricos, que só têm dinheiro.

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