País gordo, cardápio sem cor

Em uma das passagens do razoável romance O Xangô de Baker Street, de Jô Soares, um diplomata estrangeiro convidado a um banquete na corte de Pedro II quase cai para trás com a fartura e a variedade do cardápio posto à mesa comprida. Mais do que a diversidade dos assados, o bacana na descrição são as cores dos legumes, verduras, frutas e doces. Esse colorido, esse tanto de tanta coisa pra comer sempre foram marca da nossa cozinha, filha de muitas culturas, de todos os continentes.

Se você pegar as fotos antigas de sua família, aquelas tiradas lá pelos idos dos anos 60, 70 e até 80, poderá reparar como seus pais e seus tios eram magros. Repare também como você e seus primos eram crianças magricelas.

Vá para os dias atuais e perceba as pessoas a sua volta: a barriga e a papada abaixo do queixo estão sobrando. Rapazes de 20 e poucos anos têm o físico que, 20, 30 anos atrás, só teriam após a meia idade. Moças novas perdem logo as curvas sinuosas dos quadris porque estas vão sendo escondidas pelo abdômen, que cresce igual à barriga dos namorados. Crianças de 10, 11 anos pesam hoje o que muitos adultos pesavam duas, três décadas atrás.

O brasileiro engordou e parece que não está nem aí. E vai engordando à medida que as cores vão desaparecendo do nosso cardápio, cedendo lugar ao tom uniforme dos sanduíches e das frituras. Juntem-se a isso as quantidades exageradas de hoje em dia (pipoca e refrigerante, por exemplo) e o culto desmedido à cerveja, cujo consumo é incentivado pela indústria e pela propaganda de domingo a domingo.

Não é preconceito, é estatística do Ministério da Saúde. No Distrito Federal, por exemplo, praticamente metade da população está acima do peso. 15% são obesos. Os números cresceram de sete anos para cá.

Não é questão de estética, é de saúde! Se a dieta não mudar, não haverá avanço da medicina que prolongue nossa expectativa de vida. Bateremos mais cedo a “cassuleta” por causa de hipertensão, derrame, enfarte, diabetes.

E pra ser mais chato ainda, é questão de cultura também. Estamos abrindo mão da diversidade histórica de nossa fartura saudável, em favor da pobreza calórica e colonizadora do fastfood.

1 comentário em “País gordo, cardápio sem cor”

  1. Carlos Henrique

    É verdade, André. Meu filho de 2 anos nunca havia comido bala, pirulito ou hamburger. Começou a estudar e agora já pede Mc Lanche Feliz. Escola ensina muita coisa ruim também… Abração!

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