O terremoto no Haiti me remete automaticamente à piada gasta e já sem qualquer graça sobre o dia em que Deus criou o Brasil. Além de dar ao nosso país as mais belas praias, matas, cachoeiras e paisagens afins, ainda nos poupou dos catastróficos fenômenos da natureza.
Algum santo, ou assessor que o valha, questionou tanto privilégio. Ao que Deus virou e deu a explicação conhecida: “Ah, mas você vai ver o povinho que eu vou botar lá”.
Há uma versão mais moderna, que pretende ser engajada, politizada. É a que troca povinho por políticos, como se estes fossem postos onde estão por ação divina e não pelos votos de nós, pobres mortais.
Pense nessa piada olhando as fotos estampadas na Folha de São Paulo, em O Globo e no Estadão de hoje. Depois, ligue os noticiários de rádio e TV. Lembre outra vez da piada assistindo às imagens da desgraça, ouvindo os urros do desespero, do desatino, da completa ausência da esperança.
O povinho e os políticos.
Tudo bem, mas isso dá pra mudar.
A graça não está na piada, caro sócio. Está no coração de quem a escuta e espera ouvir uma verdade em palavras torpes. A piada é uma ferida que não desejamos colocar o dedo. Então cobrimos com um banddeide colorido e fingimos nada existir ali. Talvez a graça esteja no sorriso cardíaco após madarmos uns trapos pelo corpo de bombeiros para Porto Príncipe. De qualquer forma a piada está entre a verdade que não desejamos enxergar e a verdade que existe.