Conhecia Fabrízio Morelo de ouvir falar e de vista, de uma ou outra noite de lançamento literário. E confesso que durante um bom tempo, o poeta perambulou pelo abismo da minha dificuldade de, no geral, ligar nomes a pessoas.
Até que tive a oportunidade de mediar um debate do qual ele participou cerca de um mês atrás e, mais recentemente, subir com ele ao palco para o sarau que abriu o show de Raimundo Fagner no Açougue Cultural T-Bone, em Brasília.
Então, trocamos livros. Sim, escritor é uma espécie adepta do escambo. Se você está começando na carreira, saiba que trocar livros com os pares é uma forma de fazer seu trabalho circular e ser lido. Melhor ainda se a troca for com bons autores.
E é o caso de Morelo. Em troca de meu A liberdade é amarela e conversível, recebi Tediário, um delicioso livro de poemas.
A comparação com bisturi é banal, mas não me ocorre no momento nada mais apropriado: ele tem uma escrita curta, seca, objetiva, incisiva. Apesar disso – ou talvez por isso – musical, cadenciadamente melodiosa. Explica-se: o poeta também é músico, transita no samba com a mesma desenvoltura que o faz na poesia.
Mas e quem, feito eu, não tem ouvido de bamba?
Fácil de resolver. Feche os olhos e imagine um blues, que também cabe na poesia de Morelo.
Confira!
se a gente se cruza
a gente se espanca
e se se cruza
a mágoa é tanta
que mesmo ali
toda a gente
se espanta
deu vontade de dizer:
vá cuidar da sua vida
mas o despropósito
o encanto
é fazer de conta
que todo dia
é dia santo