Por que nos afastamos dos amigos

Amiga minha, que já não vejo há mais de um par de anos, veio a Brasília. Até que tentamos, mas infelizmente não conseguimos nos ver, em boa parte por causa desses temporais que em pleno abril andam assaltando, atrasados, a cidade.

Numa dessas tentativas de marcar almoço ou uma pizza à noite, ela me pergunta a que horas minha ex-mulher poderia encontrar conosco. Noto, pelo tom da pergunta, que ela, amiga de mais de duas décadas, não sabe o que aconteceu. “Estamos separados há quase um ano e meio”, respondo espantado e imaginando que o mesmo deve estar se passando do outro lado do Messenger.

Ela economiza palavras, o que por si só ilustra a situação: “Estou chocada, eu não sabia…”, e vejo, pelas reticências, a imagem de olhos esbugalhados e respiração suspensa.

Essa minha amiga já foi meu porto seguro em certa época, confidente de conquistas gloriosas e de desilusões doloridas. E hoje simplesmente não sabia que minha vida tinha dado cambalhota.

Fico me perguntando o que nos leva a nos afastarmos dos amigos queridos?

As respostas, acho, são várias, mas uma em particular se me apresenta com destaque, e a tomo como explicação do geral, não desse caso específico: nós não cuidamos de nossas amizades, e a sentença vale também para mim.

Certos da solidez da amizade, relaxamos em sua manutenção, e nesses tempos em que se convencionou que não temos tempo para nada, nos convencemos de que não há mesmo como pararmos um minuto apenas para um “Como vai? Tudo bem? O que tem feito?”, tarefa facilitada pela tecnologia.

A situação me desnudou duas grandes balelas.

A primeira é justamente essa, a de que não temos tempo para nada. Temos sim, não somos tão ocupados nem imprescindíveis como imaginamos, nem como essa sociedade de consumo precisa que nos sintamos, que não possamos escrever duas linhas pelo inbox do feici búqui, se tempo nosso ocupamos em postar as fotos do aniversário da cunhada.

A outra balela é pensarmos que não precisamos procurar os amigos para que eles saibam que “estamos aí para o que der e vier”, afinal “nossa amizade está sacramentada pelos anos e pelas barras que já passamos juntos”.

Ok, tudo bem, mas não custa nada aparecer de vez em quando para lembrar, porque, nesse mundo de carne e osso, amor e amizade precisam também da proximidade física, de notícias, de querer saber do outro.

 

1 comentário em “Por que nos afastamos dos amigos”

  1. Ótima reflexão. Dói perceber tão tarde nossos verdadeiros amigos, e poder ter aquele sentimento de querer voltar atras.

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