Quando não perdemos nada demais

Afastado da imprensa diária há pouco mais de dois anos, pouco tenho visto os telejornais, especialmente os da manhã. Confesso que, embora precisasse assisti-los mais, não tenho sentido muita falta.

Por causa de uma situação que me exigiu, além de chegar cedo, duas horas de espera numa sala, voltei aos tempos de telespectador matutino.

De cara, deparo com a reportagem sobre a liberdade de Carlinhos Cachoeira. Após triviais explicações sobre os motivos de o bicheiro voltar a respirar ares de liberdade, a matéria corta para a meteórica “entrevista” da mulher do contraventor.

Achei que os repórteres já não conseguissem mais ser tão óbvios e patéticos em suas perguntas. Mas eles são. À estonteante loura é perguntando tão e somente se ela está feliz e o que ela vai dizer para ele. Nada, absolutamente nada de uma ousadia do tipo “como a senhora se sente com ele sendo libertado mesmo condenado pela Justiça por corrupção?”

A pergunta parecia uma poltrona reclinável, tamanho conforto ofereceu à louraça que pode ser considerada a primeira dama do (esse sim) maior escândalo de corrupção dos últimos tempos. Ela, dona dos holofotes, responde radiante que está muito feliz e que ama muito o marido (ou ainda é noivo?), que por coincidência negligenciada na matéria, é o mesmo que fez um senador e um governador de fantoches.

E ela responde como se fossem inocentes, como se alguma cruel injustiça houvesse durante esses (poucos) meses separado esse casal tão puro de coração e imbuído de bons propósitos.

E sequer uma palavra na reportagem trata de desfazer esse mal entendido.

Tiro os olhos da tela, pego uma revista que levei comigo (por sinal, a ótima meia um) para suportar a espera, com a tranquila certeza de que realmente não tenho perdido nada demais.

2 comentários em “Quando não perdemos nada demais”

  1. Hugo Giusti

    É isso aí André, e todo dia a mesma noticia!!!! Não da mais para ver TV…

  2. Muito bem, André.
    Infelizmente, pouco se comenta sobre as atualidades dos noticiarios se estes não tiverem as bossalidades de bigbrothers e fazendas. É a globalização ou unanimidade que está “modernizando” o mundo.

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