Quando usávamos ficha de orelhão

Voando pela noite (até de manhã) é o meu primeiro livro. Foi lançado em 1996 e chega à sua segunda edição com a emblemática capa em preto e branco reestilizada. O automóvel é um dodge charger RT 1973, de um conhecido meu à época. O cenário é o antigo Bar da Borda, no Grajaú, no Rio, que até onde eu sei virou uma oficina mecânica. Os modelos e figurantes são todos meus conhecidos, que aceitaram participar em troca da camaradagem e de uma noite de segunda-feira fria e bem divertida, eu me lembro. Eu apareço no canto da foto, para compor o quadro, um Hithcock suburbano vagando pelos bares. A foto é de Lafayte Máximo, cujo cachê foi um abraço sincero e fraterno.

O texto original foi mantido, recebeu apenas as normas do estúpido novo acordo ortográfico. Eu e a Editora 7Letras achamos melhor não reescrever nenhum trecho, pois não haveria muito sentido reescrever. Seria como se uma banda famosa resolvesse regravar seu primeiro disco. O livro vale também pelo vigor dos meus primeiros contos, eu penso.

Aliás, a comparação com bandas de Rock é cabível, pois é o que embala as histórias passadas na virada dos anos 80 para os anos 90, em um Rio de Janeiro noturno e enfumaçado de festas e bares, e foi escrito ao som de U2, Nirvana, Legião, Barão e afins.

Nessas histórias, meus personagens masculinos procuram amor, prazer e sexo, mas sem encontrar o que verdadeiramente buscam (e sem saber que buscam): o sentido de existir para uma geração que não entendeu seu papel no mundo e em um país recém-democratizado.

Dezessete anos depois de ter sido publicado, o livro é também uma viagem no tempo devido à tecnologia da época, hoje totalmente ultrapassada. Seus personagens telefonam de orelhões com ficha e deixam recado em secretárias eletrônicas de fita K7. Me diverti muito com isso, lendo os contos outra vez após mais de dez anos sem nem pegar no livro.

Voando pela Noite (Até de manhã) foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria contos no ano seguinte (1997). Não foi nada mau para um livro de estreia, não é mesmo?
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