O cenário é o estacionamento de um dos melhores colégios de Brasília e provavelmente do país. O estacionamento fica ao lado, ocupa um terreno do mesmo tamanho do terreno do colégio, e precisa ser assim, afinal são cerca de seis mil alunos.
O nível do ensino é proporcionalmente inverso ao nível de gentileza que os pais e responsáveis adotam dentro do estacionamento.
Tente sair de uma vaga em horários de entrada e saída dos alunos. É tarefa mais difícil do que as provas do próprio colégio.
Com milhares de alunos, a fila de carros que se forma é gigantesca. Luz de ré acesa, movimento do carro deixando claro qual é a intenção do motorista, mas ninguém para, ninguém cede a vez, mesmo que haja um gesto de mão pedindo clemência.
Outro dia, no estres de conseguir sair da vaga, um motorista ouviu do outro, que não lhe deu passagem: a preferência é minha, mostrando que na sociedade de hoje preferência é mesmo mais importante que gentileza. Como se o filho de um não fosse colega do filho do outro, como se no dia seguinte quem nega a passagem não fosse precisar que alguém lhe cedesse a vez.
A falta de coletivismo incentiva atitudes que em nada melhoram a situação. O pai de um aluno meteu o dedo na cara de um motorista de van escolar, que também lhe negara passagem, e disse aos berros: você serve pra transportar gado, e não criança. O banzé pode não se justificar, mas não deixa de ser compreensível.
No estacionamento dessa escola, é de se perguntar por que os pais gastam tanto dinheiro com a formação dos filhos, se o básico, o que é de graça, eles não dão: a educação para que respeitem e considerem o próximo, o semelhante.
Ali, naquele lugar, nunca se fez tão necessária a reflexão: que filhos vamos deixar para o mundo?
Não há discurso nem escola que dê jeito na falta de bons exemplos dos pais!