Revista Traço resgata moradores de rua

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Foi lançado nesta quarta-feira, 4, em Brasília, o primeiro número da Revista Traços, que não é apenas um projeto inovador no campo editorial e também no jornalismo. ”

É também empreendedor no campo social, já que a revista será vendida por moradores de rua. De cada R$5, que é o preço de capa, o vendedor fica com R$ 4.

Fora isso, eles são os verdadeiros fomentadores de assuntos (pautas) para a revista, pois, como vivem nas ruas, se encarregam de “levar” as ruas para os jornalistas.

A publicação é capitaneada por André Noblat e Jose Rezende Jr.

Consegui emplacar um conto logo no primeiro número da Traços.

Ele se chama Outra História de Brasília. Na verdade não é inédito. Faz parte de uma coletânea da qual participei em 2010, ao lado de autores como Nicolas Behr e o próprio José Rezende Jr, para homenagear os 50 anos de fundação da cidade. O livro está disponível aqui no site ou por encomendas em minhas páginas no feici búqui.

Como neste país se lê ainda bem pouco, o conto guarda, mesmo cinco anos depois, um fresco de ineditismo. Eis um trecho.

“Não dá cinco minutos e lá vem Dona Wanda, a secretária de peitos gordos contidos num vestido de seda, a maquiagem acentuando as fendas da velhice. Não é pessoa ruim, mas se o desembargador mandar, anda de quadro pelo tribunal, late e sacode um chocalho amarrado na bunda. Pede compreensão, o desembargador anda nervoso, são decisões que precisam ser tomadas por uma pessoa do tope dele e que o senhor, seu Joanir, não tem capacidade de avaliar, fora o que aconteceu com a filha do outro desembargador, doutor Osório, amicíssimo do doutor Antero, o senhor leu no jornal, estuprada e morta, ele anda abalado, a esposa com trauma foi pro estrangeiro, as pessoas de bem estão apavoradas.

Joanir deixa escapar que tem seis meses também estupraram e mataram a filhinha do compadre. Apóia as mãos cruzadas outra vez na ponta do cabo da vassoura. E ainda deixaram o corpo no quintal da casa. Ah, mas não é a mesma coisa seu Joanir, não é a mesma coisa, e Dona Wanda sorri certa de que não é mesmo, dá as costas com seu traseiro de máquina de lavar e também some gabinete adentro.”

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