O cartum de André Dahmer me remeteu a uma impressão / sensação que sempre tive em relação à literatura, e mais especificamente à crítica literária e ao gosto das editoras.
É só uma impressão, repito, mas me parece que livros cujos personagens são doentios, infelizes, psicopatas, violentos – por aí vai – são mais bem aceitos e ovacionados pela crítica literária.
Não tenho qualquer levantamento estatístico; apenas meu exemplo pessoal.
Em meu 1º livro, Voando Pela Noite (Até de Manhã), lançado em 1996 pela 7Letras, há um conto em que o personagem principal cheira cocaína o tempo inteiro, estupra uma colega de faculdade e se mata (e mata a garota) em um acidente de carro.
Sempre foi o conto preferido da editora, a ponto de, na 2ª edição, em 2013, ter passado a ser o último do livro, para “fechar com chave de ouro”.
Relembrando de alguns (bons) títulos que li nos últimos anos e que foram premiados, verifico que todos eles têm personagens principais doentios, tristes, assassinos ou que acham a vida uma bosta e o ser humano sem salvação.
Personagens ricos, sim, com muito conteúdo, mas nenhum feliz, nenhum “de boa” como se diz hoje, construindo no leitor uma perspectiva melhor do mundo e da humanidade.
Até me pergunto se não é uma derivação intelectual-literária do sensacionalismo dos programas popularescos de TV.
É normal que a literatura aborde a tristeza e suas primas, os desvios de comportamento e seus derivados, pois todos fazem parte da vida.
Mas alegria e a bondade também fazem.