Sobre elevadores e cafezinho

Foto OAB - BA
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Rodrigo Leitão me contou recentemente que quando entrevistou a ministra da Cultura da França, anos atrás, precisou subir quatro andares de escada. O prédio, onde ao menos à época ficava o ministério, era antigo, não possuía elevador, e a ministra cansava todos os dias as canelas e os joelhos nos degraus.

No mesmo papo, outro colega de profissão, Ivan Godoy, lembra-se da entrevista que fez com o ministro das Relações Exteriores de um país que não me lembro qual, mas era um desses em que há escola ótima e hospital perfeito para todo mundo e ninguém fica na rua pedindo esmola.

Assim que o Ivan aceitou o café que o ministro ofereceu, o próprio figurão levantou-se, foi no canto da sala e voltou com um copinho de café de garrafa térmica.

No Brasil, não apenas ministros, mas secretários de estado, que muitas vezes nem sabem direito o que estão fazendo no cargo, sobem e descem em elevador privativo, apartados de quem banca seus salários.

Qualquer chefete de repartição pública mequetrefe tem direito a garçom vestido de pinguim trazendo cafezinho e água gelada na bandeja.

Nem me estenderei aos carros oficiais e verbas de gabinete. Ficarei apenas nesses dois exemplos de mordomia rastaquera, a partir da qual vislumbramos um estado cimentado nos privilégios e nas distorções.

Revoltados e perplexos, assistimos todos os dias à consolidação do imenso descalabro que é a vida nacional.

O problema também é este: num país de grandes escândalos, acabamos por não nos dar conta das pequenas indecências diárias.

Mas nos insurgirmos também contra elas, seu costume e sua historicidade arraigada em nossa cultura, é um bom começo para combatermos as grandes patifarias nacionais.

Podemos começar subindo com todo mundo no elevador e pegarmos café da garrafa térmica em caso de virarmos secretário, ministro ou nada além de chefete.

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