Sobre elevadores, tecnologia e inteligência

Trabalho em um prédio construído no início dos anos 70. O último dos elevadores originais foi desativado há algumas semanas.

Era daqueles revestidos de fórmica, com grandes e desgastados botões pretos de comandos analógicos e pequenas molas de pressão, perfilados num painel de aço riscado por nomes e datas perdidas nos calendários.

O uso diário por anos a fio e o costumeiro pouco caso do Estado com seu patrimônio (no prédio sempre funcionou uma repartição pública) levaram o equipamento ao limite do esgarçamento, a ponto de precisar ser colocado o aviso, contundente, mas sincero: “Lotação máxima 5 pessoas. Cuidado! Risco de despencar!”. Quando as velhas portas desajustadas abriam ou fechavam, a sensação era de que a pequena cabine iria realmente desmontar.

Dono de velhas histórias e desabonado de tecnologia, o barulhento cubículo possuía um mérito: não demorava, ou pelo menos não mais do que o aceitável.

Desativado, deu lugar ao seu moderníssimo substituto, de aço inox brilhante, luz de neon mais clara que o dia e espelhos onde as mulheres sobem ou descem ajeitando os penteados, e os homens, as gravatas. Uma gravação avisa que andar é aquele em que se parou. O andar, aliás, é escolhido antes do embarque: digita-se o número e a tecla confirma. Um espetáculo. De demora, de espera na fila, de desistência e opção de subir pela escada, dependendo de pra onde se queira ir.

Claro, o problema não é o novo equipamento, eu já sabia quando pedi a explicação. Encabulado, alguém responsável admitiu que houve erro na programação do sistema, e que agora precisam refazer tudo, mas que só dá pra fazer no fim de semana, quando não há expediente.

De tudo isso, fica a conclusão que sempre pareceu óbvia, mas que de vez em quando parece ofuscada pelo temor de que as máquinas tomem do homem o comando do mundo. A tecnologia só é fantástica se, por trás dela, houver o mínimo de inteligência que a ponha para funcionar.

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