Sobre não fazer de novo o que já deu certo antes

Já ouvi algumas vezes que a adoração aos Beatles se deve, em parte, à banda ter acabado em seu auge.

Pelé parou aos 37 anos, quando poderia jogar – dizem os mais velhos – pelo menos mais duas temporadas, ainda mais no futebol norte americano de 40 anos atrás.

Ayrton Senna virou semideus pela forma como correu e morreu, mas a esta última se pode acrescentar a idade – 34 anos – e ao arrojo e perícia com que ainda pilotava.

O que quero dizer é até algo que não é novo, mas me parece sempre pertinente: parar (ou ser interrompido) no auge, ou em estágio semelhante, parece reforçar a tinta do carimbo de nosso nome no papel da posteridade.

Nem sempre todos entendem isso, e ainda vão além: retornam aos postos nos quais se consagraram com o desafio de repetir o êxito, sem perceber que os instrumentos poderão não ser os mesmos, mas que a cobrança poderá ser ainda maior.

O Schumacher da Ferrari sempre viverá na memória de quem ama F1, mas o Schumacher que insistiu na volta pela Mercedez arranha, certamente, a lembrança que se têm do primeiro, o imbatível.

Felipão nunca foi um Telê Santana, nem na educação e muito menos no conhecimento sobre futebol.

Mas havia sido campeão do mundo. Penta campeão.

Parreira foi tetra, depois de 24 anos sem que o Brasil levantasse o caneco mais famoso do mundo.

Insistiu em voltar e fazer o mesmo na Copa de 2006. Não satisfeito, ainda deu o braço ao outro para voltar pela terceira vez.

Deve ser bem difícil ter a consciência não apenas da hora de parar, mas de saber que em alguns casos já fizemos o nosso melhor, que não seremos melhores do que nós mesmos fomos algum dia. De que não faremos do mesmo jeito que fizemos.

É algo que passa, quem sabe, por um certo senso de sobrevivência, de preservação da nossa imagem, do nosso nome.

Acho que pensar num jogador de pôquer que ganha uma fortuna numa noite e que na noite seguinte perde tudo, quando poderia ficar em casa curtindo a riqueza, explica um pouco essa situação.

Poquer

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