Cerca de dois anos atrás fiquei chocado quando uma reportagem mostrou cartas com conteúdo racista trocadas entre Monteiro Lobato e um amigo dele.
Pelo que me lembro, um de nossos maiores escritores enaltecia os Estados Unidos pelo fato de o país possuir entidades que formavam a Ku Klux Klan, agregadora de representações que acreditam haver superioridade da raça branca.
Mesmo chocado, não pus de lado minha admiração pelo escritor. O homem passou a ser merecedor de minhas ressalvas, mas a aura do criador do Sítio do Pica Pau Amarelo se manteve intocada.
Um grande artista não é necessariamente um exemplo de ser humano. Gostarmos de sua obra não é ponte obrigatória para admirá-lo como pessoa.
Lobão é uma das figuras mais importantes e emblemáticas do Rock Brasil e da música pop nacional.
Discos como Lobão e os Ronaldos, de 1984, é uma das melhores coisas que se fez naqueles anos da turbulência da redemocratização. Há outros antológicos, como O Rock Errou, lançado dois anos depois.
Esse Lobão, que embalou todo uma geração no rádio, nas festas e bailes continua existindo para mim, vivendo no mesmo lugar que reservei para Monteiro Lobato, o escritor.
O Lobão que diz que a ditadura brasileira “arrancou apenas umas unhazinhas” não ofusca o autor de pérolas como Corações Psicodélicos. Note bem que não o condeno por criticar o governo, pois todos têm o direito de querer outro governante para o país. Mas não posso ficar impassível diante de sua leniência com a estupidez dos anos de chumbo.
Para este tapo os ouvidos, e continuo a escutar o Lobão que vive naquela época em que desconhecíamos sua imbecilidade.
André, tenho 41 anos e não “vivi” essa época, mas meus pais e avós dizem que as coisas eram melhores do que hoje. Por exemplo, eu jurava que nunca veria a gasolina custar R$3,00. Já passou disso e muito… Grande abraço!