Alguma coisa além de Robinson Crusoé

Entro na livraria do Centro Cultural Banco do Brasil, lugar que, em tese, é frequentado pela inteligentzia das cidades onde há CCBB. Brasília é uma delas.

Pergunto se há algum exemplar de Robinson Crusoé, e a menina que me atende pede, teclando com agilidade no terminal de consulta, que eu repita o nome do autor. Fiquei sem entender, pois eu não havia dito o nome do autor.

Ela insiste: o nome do autor, senhor, é Robinson de quê mesmo?

Sinto um aperto no peito tão grande, uma imensa pena daquela menina que veste o uniforme bem transadinho da livraria moderninha e chiquezinha, pretensamente cult, onde, se a coisa funcionasse bem mesmo, a vendedora deveria olhar nos olhos do cliente e com o mínimo de segurança discorrer  sobre clássicos, lançamentos e autores.

Ao mesmo tempo, sou tomado mais uma vez por uma imensa vontade de mandar o Brasil ir se foder, com seus faustões, lucianos hucks e Brunos & Marrones e afins.

Mas engulo a seco, explicando à menina que Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, é um dos principais livros escritos em todos os tempos para o público infanto-juvenil.

É importante que nos últimos dez anos um Brasil historicamente alijado do ensino, do conhecimento e da formação profissional esteja tendo oportunidades de entrar numa universidade e vislumbrar um futuro melhor do que o que antes lhe era reservado apenas em casas de famílias ou canteiros de obra. Da mesma forma é inegável o valor de termos quase 100% das crianças de sete a 14 anos na escola. Mas é preciso ir além de números em salas de aula e alcançarmos, finalmente, a consciência de que tão importante quanto é o conteúdo passado a esses alunos,  pois mais do que estatísticas, o que realmente  melhora uma sociedade é a capacidade de pensar e agir com base no conhecimento.

Robinson Crusoé passou 28 anos numa ilha
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