A estratégia torta das manifestações

A Esplanada dos Ministérios, em Brasília, é separada por um imenso gramado, tanto na largura quanto na extensão. Quem não conhece, basta imaginar vários campos de futebol um ao lado do outro. E vazios, sem nada, por que pelo costume da cidade esses enormes espaços desertos são feitos para que as pessoas os contemplem, e nunca usufruam deles.

Seriam perfeitos, pois, para abrigar as centenas de passeatas recebidas todos os anos pela capital do país. Justas, essas manifestações, sejam da natureza que forem, devem mesmo ter na cidade seu principal palco. Afinal, é aqui que mora o poder, é aqui que estão os homens que decidem.

Mas parece que a cada causa reivindicada, a cada greve ou campanha salarial, sindicatos, associações ou entidades que se equivalem aprimoram o talento que possuem para deixarem contra si a população.

Nesta quarta-feira, funcionários da educação e da saúde tomaram as pistas da Esplanada na hora do almoço, parando o trânsito em uma das principais vias de Brasília. Mais uma vez, pessoas perderam compromissos, crianças ficaram esperando pelos pais nas escolas. Hoje foi na hora do almoço. Não raro essas manifestações ocorrem de manhã, no horário em que todo mundo está indo para trabalho.

Embora soem todas iguais nas mesmas palavras de ordem que os sindicalistas utilizam desde os anos 70, as reivindicações parecem justas. Mas se ganham no mérito, perdem na simpatia. Quem poderá apoiar uma causa que o prejudica, que o deixa parado no trânsito debaixo do sol inclemente de meio-dia, que o faz chegar atrasado ou perder um compromisso?

Não há razão aparente, acho que nem mesmo oculta, para que os manifestantes não caminhem, no caso específico de Brasília, no gramado da Esplanada. Teriam a mesma visibilidade, e certamente muito mais apoio da população.

A não ser que, além de protestar e reivindicar, haja o incabível objetivo de prejudicar a cidade.

E aí não é democracia. É desrespeito ao próximo.