Tédio com T de tecnologia – 2

Na última festa de fim de ano do colégio de minhas filhas, havia mais pais e mães na beira do palco se acotovelando para bater fotos ou filmar do que criança se apresentando.

Desde que a era digital nasceu para a fotografia, é cada vez mais difícil encontrar alguém que assista a alguma apresentação que não seja por trás do enquadramento de uma máquina amadora, celular ou smartphone.

Parece que não é mais possível que um espetáculo seja visto sem que os olhos tenham a intermediação da tecnologia.

Nada contra a fotografia e a tecnologia, menos ainda em relação à união das duas, que, inclusive, fez com que amadores feito eu descobrissem o prazer de, por exemplo, retratar as nuvens da cidade onde moro.

Mas é que alguns acontecimentos talvez precisem ser fotografados primeiramente – e às vezes apenas – pelos olhos, que são as lentes da alma.

É provável que enquanto estivermos procurando o ângulo mais adequado para capturarmos num clique aquele que julgamos o melhor momento, nosso envolvimento maior seja com a mecânica de fotografar, e não propriamente com seu objeto. E como no geral não somos profissionais, é bem possível que aquele verdadeiramente melhor momento – a rodada de saia da filha na quadrilha da festa junina, a cara engraçada do filho na pecinha de natal – não se eternize nem pela técnica da lente nem pelo misterioso mecanismo da memória.

Sem falar que uma foto pode ser esquecida na gaveta, perdida no caminhão de mudança, ou, nessa era hightech, desaparecer na falta de backup.

Já uma lembrança marcante estará conosco até nosso último suspiro de vida.

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