Toca Raul (Sempre)!

Uns dez anos atrás, o prédio em que moro até hoje estava sendo reformado e me lembro de que quando passei por debaixo dos andaimes ouvi alguém cantando Metamorfose Ambulante. Afinado, um dos operários desfiava os versos da música de cabo a rabo enquanto manejava seus instrumentos de trabalho. Eu, que iria pegar meu carro para ir trabalhar, tinha em mãos um CD dos anos 90 com diversas versões em inglês que Raul Seixas gravou das próprias músicas. Era o que me embalaria no caminho.

Pensei o quão gratificante para um artista deve ser sua obra transitar em diversas camadas da sociedade. Eu, profissional de nível superior e aquele homem, que provavelmente não fora além do ensino básico, tínhamos algo em comum além de sermos os dois filhos de Deus. É provável que em algum outro ponto da cidade, alguém com diversas diferenças em relação a nós dois, também estivesse ouvindo Raul, e tantos outros mais diversos ainda não apenas ouvissem e cantassem, mas também, em algum momento de suas vidas pedissem ‘Toca Raul!’.

Não gosto de samba, pouco ouço MPB, e bossa nova, pra mim, é remédio pra insônia ou trilha sonora do tédio. Mas não é questão de achar bom ou ruim. É outra coisa, que passa pela estética, mas, acima de tudo, pela representatividade.

Para usar uma expressão que me aprece meio desbotada, mas que ainda tem lá sua capacidade de resumir um sentimento, Chico, Caetano, Gil são ótimos, mas não me representam, não falam, com exceção de uma ou outra música, o que vai pelas minhas veias e artérias, o que move minhas angústias e alegrias.

Raul, ao contrário, disse tudo que eu queria dizer, e ainda quero, mesmo 25 anos depois de ele ter partido pra verdadeira vida.

Um exemplo disso está neste link.

No mais, hoje e sempre, Toca Raul!!!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima