Um homem branco e a barbárie


Ferdinando é branco, bem alimentado, bem vestido, bem instruído, bem empregado no terceiro andar do bloco E da Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Nasceu no interior de Goiás, onde a família tem umas terras.

Ferdinando gosta de discutir sobre o noticiário que passa na Globo News.

“É tudo vagabundo, não pode aliviar. Pra chorar a mãe do policial, que chore a dele, a do vagabundo”, e ele é categórico, enquanto as imagens abalam e chocam o país (ou também nem tanto).

“Mas Ferdinando, no meio de 120 todo mundo era bandido?”

“O que inocente ia tá fazendo na favela e no meio da bandidagem?”

Ferdinando, homem branco, bem alimentado, bem vestido, bem instruído, bem empregado no terceiro andar do bloco E da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nunca foi ao Rio de Janeiro. “Minto. Fui uma vez e fiquei na casa de uma tia da minha mãe na Barra, mas foi um dia só”.

Ferdinando nunca entrou numa favela.

“Nunca entrei porque em Brasília não tem favela”, ele assegura que não tem, ele acredita que não tem.

extra.globo.com

Ferdinando é um burocrata de planilhas e tabelas, mas rechaça com autoridade a versão do especialista em segurança pública que crítica a operação em entrevista na Globo News

“Como é que esse babaca diz isso? Tá falando asneira!”, acusa Ferdinando, entendido de planilhas e tabelas no terceiro andar do bloco E da Esplanada dos Ministérios.

Mas Ferdinando não entende apenas de segurança pública no Rio de Janeiro, onde mal esteve.

Você pode conversar sossegadamente com ele sobre astrofísica, física quântica, gravidez de risco, ponto de cada corte de carne no churrasco, tipo de graxa para sapato marrom e preto e motores de foguetes.

Se você estiver pela Esplanada dos Ministérios, com dúvida sobre algum desses assuntos, procure Ferdinando, homem branco,  bem alimentado, bem vestido, bem instruído, bem empregado no terceiro andar do bloco E.

Atualmente seu interesse maior é segurança pública no Rio de Janeiro, e a partir da ampla visão adquirida no dia em que passou na casa da tia da mãe, na Barra da Tijuca, ele vai lhe assegurar:  “É tudo vagabundo, não tem como aliviar”.

1 comentário em “Um homem branco e a barbárie”

  1. Ricardo Almeida

    É exatamente isso. Sem tirar uma vírgula. Foda-se Ferdinando fdp!

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