Um livro aclamado e cercado de polêmica.

Por Alexandre Pilati*

 

2666 é o nome do romance póstumo do escritor chileno Roberto Bolaño, que acaba de ser lançado no Brasil pela editora Companhia das Letras, depois de ter sido aclamado por críticos literários de várias partes do mundo. Basta dizer que o New York Times o considerou o livro mais importante do ano, quando apareceu em inglês, logo após a morte de Bolaño, ocorrida em 2003. Com mais de mil páginas, 2666, é um romance caótico, que, na verdade, reúne cinco narrativas bem diferentes entre si e que deveriam ser lançados, segundo o testamento deixado pelo seu autor, em cinco volumes diferentes, com espaço mínimo de um ano entre cada um deles. O objetivo de Bolaño, ao fazer essa recomendação aos seus editores, era garantir o sustento dos seus filhos, que ainda eram crianças na época em que ele morreu em decorrência de problemas no fígado com apenas 50 anos de idade. Os responsáveis pela edição de 2666, Jorge Herralde e Ignacio Echevarría, argumentaram que o livro fazia sentido apenas com as histórias reunidas em um só volume, embora não haja nenhum elemento narrativo ou de estilo que ligue cada uma das partes às outras. Em nome da qualidade literária, então, o livro ganhou o mundo como um calhamaço de ritmo alucinante.

Cinco narrativas em uma

As mais de mil páginas de 2666 revelam um autor com pleno domínio da arte de contar histórias e retirar delas o máximo de expressividade capaz de deixar o leitor inquieto e absorto. A primeira história narra a saga de quatro críticos europeus em busca de Benno von Archimboldi, um escritor alemão recluso do qual não se conhecem fotos. Na segunda, há a agonia de um professor mexicano às voltas com seus problemas existenciais. O terceiro romance conta a história de um jornalista esportivo que acaba se envolvendo com crimes cometidos contra mulheres da cidade de Santa Teresa, no México. Na quarta e mais extensa das partes do livro, os crimes de Santa Teresa são narrados com a frieza e o distanciamento próprios da linguagem jornalística das páginas policiais. E finalmente, na quinta história o leitor é conduzido de volta à Segunda Guerra, tornando-se testemunha do passado misterioso de Benno von Archimboldi. De alguma forma, todas essas narrativas têm entre si uma certa ligação com as perguntas: onde está Archimboldi e quem matou as mulheres de Santa Tereza. As respostas ficam no ar, mas isso não quer dizer que o romance não deixe a sua mensagem sobre o sentido ou a falta de sentido da vida e da própria arte literária.

O maior autor latinoamaericano de sua geração

 

A crítica norteamericana Susan Sontag disse certa vez que Roberto Bolaño era “o mais influente e admirado romancista de língua espanhola da sua geração”. De fato, se não quisermos exagerar na avaliação, Bolaño é, pelo menos, um dos escritores que com mais coragem enfrentou os dilemas históricos da América Latina na segunda metade do século XX. Na sua relativamente curta carreira literária, ele deixou isso bem claro. No Brasil, o leitor encontra diversos livros de Bolaño publicados, além de 2666. E para quem não quiser enfrentar de cara as mais de mil páginas do livro final, pode começar a conhecer Bolaño por dois de seus mais lidos romances. Um deles é Os Detetives selvagens, que é uma narrativa policial em que dois poetas marginais buscam por uma poeta vanguardista misteriosamente desaparecida. O outro é Noturno do Chile, que é um denso monólogo, do qual protagonista é o padre Sebastián Lacroix, que repassa de uma forma delirante a sua vida de poeta e crítico literário.

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre livro 2666, pode acessar www.alexandrepilati.com para encontrar alguns trechos do romance que estão disponibilizados no blog.

*Alexandre Pilati participa comigo às segundas-feiras do bate-papo literário na BandNews FM 90,5 Brasília às 16h51, com reprise na terça às 11h31.

2 comentários em “Um livro aclamado e cercado de polêmica.”

  1. Pena que os horários sejam impraticáveis para mim. Por sorte, neste dia, fui fazer uma visita externa e consegui ouvir.
    Tem gravado no site?

  2. Pena não termos, por aqui, no Rio do Boechat, um bate-papo literário tão simples e rico com o Pilati.

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