Vale de Lama (e de ilusão)

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Quando eu era pequeno, usava-se eloquência para se falar Vale do Rio Doce. Era como se referir a uma entidade acima do bem e do mal.

Na minha infância, escarafunchar as montanhas de Minas e do resto do país nos era vendido como progresso. “Tudo isso vai virar aço, pra virar automóvel”, meu pai apontava com entusiasmo os trens que passavam abarrotados de minério.

Nos anos 90, quando deram a empresa em troca de uns cachos de banana, a promessa era de que a Vale, que tirou do nome o rio que lhe deu tanto, se tornaria modelo de gestão e eficiência. Como se ela nunca houvesse dado lucro milionário. Mas naquela época, era preciso fazer com que o país acreditasse que tudo o que era da iniciativa privada era ótimo e funcionava. E tudo o que era do estado era ineficiente, não prestava.

Nos anos 2 mil, foi de bom tom pendurar na tal gestão eficiente ações em prol do meio ambiente. Batizaram isso de Compensação Ambiental, e deram de criar parque aqui, parque acolá, para ver se disfarçava a sucata em que a empresa continuava transformando as montanhas que ela cavucava em busca do progresso, nome cínico dado ao lucro desmedido.

Acho que naquele mar de lama não estão submersos apenas quase trinta vidas humanas, outras tantas animais, um povoado inteiro e o que ainda restava de saúde a um rio e a todo um ecossistema em volta.

Foi-se, finalmente, a mítica eficiência gerencial, administrativa ou seja lá que nome tenha, incapaz até mesmo de instalar uma simples sirene para avisar que as barragens haviam rompido.

A Vale era uma ilusão.

Uma grande ilusão em um país que a cada dia se desilude mais e mais consigo mesmo.

1 comentário em “Vale de Lama (e de ilusão)”

  1. Sergio Maciel

    Concordo, caro amigo. Esse nosso modelo de desenvolvimento nos arrasta para a extinção. O foco do capitalismo atropela questões ambientais e sociais, colocando o lucro como objetivo prioritário.

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