A lição que se leva de uma trilha na Chapada dos Veadeiros

Nunca gostei dessa história de “desafiar a si próprio” ou “superar os próprios limites”.

Para mim é coisa do sistema querendo que você dê o sangue e os ossos a ele para que ele lucre mais e acumule mais dinheiro.

Mas admito que senti uma satisfação particular ao fazer em apenas um dia a trilha da cachoeira Sertão Zen, que está inserida no Parque Nacional da Chapada (maravilhosa!) dos Veadeiros.

A Sertão Zen é considerada uma das trilhas mais difíceis da Chapada dos Veadeiros (há trilheiros e guias que a consideram a mais difícil).

São vinte e três quilômetros de extensão. O problema é que, devido às condições do terreno, esses vinte e três sobem, no mínimo, para uns trinta.

Foram doze horas de caminhada de um interminável sobe morro – desce morro – morro acima – morro baixo, com o caminho, em sua maior parte, formado de pedras. Aliás, belíssimas pedras, de alguns bilhões de anos, de acordo com o Francisco Lohmann, geólogo e guia que me conduziu.

Nessa minha aventura pela Sertão Zen teve de tudo, tudo que uma verdadeira trilha pode oferecer e tudo que um trilheiro raiz pode querer.

Teve descida com chão de cascalho e pedra solta (um dos piores cenários para descer); subida com pedras que equivalem a três ou quatro degraus de uma escada juntos, com a diferença de que, em alguns trechos, é uma pedra atrás da outra; teve cobra no meio do caminho, teve sol a pino, teve chuva e vento fortes, teve risco real de cabeça d’água, mas, acima de tudo, teve, e sempre terá, um cenário deslumbrante que, para mim, é um dos mais belos do país (tudo bem, não conheço muita coisa, mas acho que mesmo arriscando, não fujo da realidade)

Quando terminamos, já era noite, e eu tinha a impressão de haver deixado minhas pernas no meio do cerrado.

Eu havia feito a Sertão Zen, desafio para todo trilheiro de verdade.

Saí de lá com a certeza cada vez mais consolidada de que somos peças, embora importantes, pequenas demais na complexidade da criação, da qual a própria Chapada faz parte.

Tentarmos nos melhorar nessa pequenez, combatendo nossa vaidade, orgulho e egoísmo, talvez seja a nossa Sertão Zen de cada dia.

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