No meio da madrugada, o pai tenta voltar a pegar no sono depois de uma escapulida ao banheiro.
Já está quase conseguindo, quando ouve passos curtos saindo do quarto ao lado e se aproximando de sua cama. A pequena para e, antes que fale alguma coisa, ele pergunta, já sabendo o que é.
Medo, pesadelo, balbucia a voz miúda, oprimida pela escuridão, pelo silêncio da madrugada, por esse mundo de fantasia que rouba a paz do sono das crianças.
Vem, deita aqui, o pai ergue o tronco, e, mesmo sem jeito, alavanca a menina com os dois braços e a aconchega ao seu lado. O trêmulo corpo frio se acomoda no edredom.
A respiração está mais tranquila, mas ainda não é normal. Prestes a reencontrar o caminho do sono, o pai sente a pequena mão se movimentar dentro das cobertas, procurando, procurando.
Mas o que é agora? E quando pergunta, a mãozinha mínima pega na sua e aperta. E assim fica, sem desistir.
Só então a respiração da pequena retoma totalmente a tranquilidade.
Ele, finalmente, encontra de novo o sono, mas não sem antes pensar que pelo menos para alguém, alguma coisa nele é mais forte que o resto do mundo.
Do livro Histórias de Pai, Memórias de Filho (7Letras, 2013)
Profundamente poético, lindo!
Maravilha, amigo! Parabéns!