Enquanto você dormia

Na beira da cama
ainda sem luz do dia
seus ombros pesam
suas pernas pesam
e você vacila em se erguer.
No entanto,
Tudo que não seja físico em você
Prescinde de esforço.
Há dentro de você
uma incomum leveza
de orvalho
que se torna vapor
ao beijo do sol.
Embora até há pouco dormisse,
você pensa que andou
léguas e léguas
falando de estrelas
de pássaros soltos
de crianças com infância
mulheres respeitadas
e da possibilidade
de um mundo melhor.
Parece também que
ao longo da noite
sem lembrança de sonhos,
você deu água, comida e casaco
quando foi necessário,
pois suas mãos igualmente pesam
emendadas a seus braços exaustos,
e ainda assim por dentro
insiste a leveza
de grão de pólen
que escapou da abelha.

Mas o que será
Que lhe traz essa sensação,
se às onze da noite
você apagou feito
vela consumida
e dormiu sem quebra
o sono de pedra
dos homens explorados?
A resposta é justamente
esse conforto estranho no peito,
e a impressão de que
em algum lugar
ao qual você nunca foi,
alguém que você jamais viu
pensa em você
e sorri com gratidão.

3 comentários em “Enquanto você dormia”

  1. Ádlei Carvalho

    Inspiradíssimo, amigo!

    “e ainda assim por dentro
    insiste a leveza
    de grão de pólen
    que escapou da abelha.”

    Que maravilhoso isso!

  2. Ricardo Almeida

    Eu quis dizer “há, com certeza, quem pensa”, e não “que pensa”.

  3. Ricardo Almeida

    E em algum lugar onde a sua escrita chegou, há, com certeza, que pensa em você e sorri com gratidão!
    👏👏👏👏👏

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