Paulo Bono segue esmurrando a direita (e a esquerda)

Há uma cena em Pepperoni, novo livro do escritor baiano Paulo Bono, em que o narrador vai parar em uma dessas feiras tidas como alternativas, em que a única coisa que não é alternativa é o preço: tudo caro pra cacete.

É um daqueles redutos do “afeto” e da esquerdinha gourmet, aquela que toma drinks coloridos dos quais parece sair fumaça de sinalizador da Marinha. Tudo é com afeto: comida, artesanato, roupas… com afeto e com um olho grande, bem aberto pro vil metal.

Em uma das cenas, é oferecida ao personagem uma camiseta de apoio a uma causa social, de que agora não me recordo, por módicos R$ 200, e ele fica calculando quantas camisetas decentes poderiam ser compradas por aquele valor para gente que não têm o que vestir.

Não tenho o prazer de conhecer pessoalmente o Bono, mas tenho a impressão de que ele se considera membro das chamadas minorias.

Se realmente ele se enquadra nelas, cresce minha admiração, porque ele não passa pano nem alivia pra esquerda, cuja dose de hipocrisia me parece ter crescido nos últimos anos, com cada segmento dessas mesmas minorias olhando emocionada para o próprio umbigo, e fazendo vista grossa, por exemplo, para a fome no país, segmento em que a direita não sabe manejar e nem tem interesse.

Ao longo de Pepperoni, o pau quebra pra esquerda, pra direita, pro centro, pro alto e pra baixo.

Paulo Bono não tem medo de escrever, de criar “raivinhas”, de ser cancelado , e eu não tenho medo de dizer que ele é um dos melhores autores da atualidade.

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