Um pouco da literatura do país campeão do mundo

Por Alexandre Pilati*

 

Tendo ganhado a Copa do Mundo da África do Sul, é bem provável que a Espanha vire o país da moda nos próximos meses. Muita gente, levada pelo título esportivo, vai querer conhecer mais este país da Península Ibérica que é um dos mais ricos e fascinantes da Europa. A literatura não foge à regra e uma série de lançamentos programados para esse ano pode fazer o leitor do Brasil se familiarizar mais com a produção literária espanhola.

Entre esses lançamentos destacamos três títulos para o nosso ouvinte. O primeiro é um livro de crítica literária que é um verdadeiro mapa da literatura espanhola. Escrito pelo professor da USP Mario Miguel González, o livro intitula-se Leituras de Literatura Espanhola. Os outros dois destaques são lançamentos de autores contemporâneos espanhóis. O primeiro é Veneno y Sombra y Adiós do romancista Javier Marías. O outro é um livro escrito por Enrique Vila-Matas, intitulado História Abreviada da Literatura Portátil.

Leituras de Literatura Espanhola

Em Leituras de Literatura Espanhola, publicado pela editora Letraviva, o professor de literatura espanhola da Universidade de São Paulo Mario M. González, que é argentino de Córdoba e naturalizado brasileiro demonstra por que ele é uma das maiores autoridades em literatura medieval e espanhola do país. O objetivo do livro é “articular os momentos fundamentais da estruturação da literatura espanhola” dimensionando-os como fatos históricos. As características da literatura espanhola segundo ele, têm relação direta com o desenvolvimento peculiar da Espanha, país que deu ao mundo seu primeiro romance verdadeiramente transgressor, o Dom Quixote de Cervantes. Esse papel pioneiro se deve sobretudo à insubordinação ideológica de autores cuja independência provocou o advento de obras-primas, mas também a prisão e perseguição desses escritores. O recorte crítico do professor vai da Idade Média até o século 17, apontando as linhas mestras de uma literatura que exportou um modelo de modernidade para o mundo todo.

Veneno y Sombra y Adiós

O lançamento de Veneno y Sombra y Adiós, de Javier Marías é prometido para o mês de setembro pela editora Companhia das Letras. Este é o terceiro volume da ambiciosa trilogia Seu Rosto Amanhã, que o historiador inglês Peter Burke considera o melhor romance da década. Já foram publicados no Brasil Febre e Lança (volume 1, em 2003) e Dança e Sonho (volume 2, em 2008). Nesse terceiro volume o protagonista é um agente que trabalha para o serviço secreto britânico e foi amigo de Ian Fleming, o criador de James Bond. Mesmo assim, não se trata de um livro de ação, e sim de reflexão. Javier Marías cria um espaço filosófico onde convivem o real e o inventado, ambos com uma linguagem tão particular e que o leitor deve estar atento para descobrir onde começa a verdade e acaba a mentira nesses escritos.

História Abreviada da Literatura Portátil

Já em História Abreviada da Literatura Portátil, que a editora Cosac Naify promete lançar ainda em 2010, o escritor catalão Enrique Vila-Matas, de 62 anos, fala de uma sociedade secreta supostamente criada na África em 1924: a conjura “shandy”, da qual teriam feito parte García Lorca e Walter Benjamin. Esses escritores de “literatura portátil” tinham de manter o mesmo estilo de vida e, fundamentalmente, assumir a postura de pesos ligeiros da história literária. Inovadores, nômades e insolentes, eles seriam um pouco como o próprio autor Vila-Matas, herdeiros de um espírito transgressor que fez os espanhóis incendiarem a literatura dos séculos 16 e 17.

Alexadre Pilati e eu conversamos sobre literatura toda segunda-feira, às 16h51, na BandNrews FM, 90,5, com reprise às terças-feiras, às 11h31.

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