A cômoda solidão dos grupos de WhatsApp
Perdi a conta em quantos grupos de WhatsApp me enfiaram. Em outros precisei me enfiar, por obrigação, nunca por prazer.
Neles, “converso” com quem está na mesa de trabalho ao lado e também com quem mora no Pará ou na Crimeia.
Pois bem. Acho que nunca tive tão pouca gente para tomar um mísero chope no boteco em uma tarde de sábado.
Acho que não foram os grupos que nos distanciaram, foi a acomodação de achar que se está tendo vida social sem precisar tirar a bunda do sofá confortável e sem o trabalho de dirigir ou chamar o Uber para encontrar um amigo, ou um conhecido bom de papo que seja.
Nos últimos tempos, tenho tentando juntar amigos da vida real, mas que cada vez mais se exilam na acomodação da vida virtual.
Há sempre uma desculpa para não se sair do conforto letárgico do aplicativo: a sogra com hemorroida precisando de assistência ou a prima de segundo grau da mulher que chegou da Bahia, de Minas ou da puta que a pariu e quer conhecer a cidade.
As velhas discussões em mesa de bar, que nunca deram em nada, migraram para a tela do celular. Continuam não dando em nada, mas com o agravante de que perderam o calor humano e as boas risadas que provocavam em quem assistia ao debate inócuo e desproposital, como bem cabe à arena dos pés sujos.
Perdem-se minutos preciosos do dia tentando acompanhar embates, sem que saibamos – pois pela tela é impossível – o tom que as pessoas estão usando, se estão calmas ou exaltadas.
Se deixarmos, lá se vai metade do dia em piadas que nos enviam e enviamos, muitas certamente engraçadas, mas que não trazem a interpretação daquele amigo, o palhaço da turma, que todo mundo considera um humorista desperdiçado.
Os aplicativos de mensagens nos conectaram a uma multidão virtual, que só é menor do que a solidão em que nós mesmos mergulhamos entregues ao mundo frio de telas e teclados. .