O estranho pais gourmet da fome e da miséria
Há cerca de um ano escrevi que nunca havia visto tantos moradores de rua em Brasília.
Repito a frase nesta 1a quinzena de 2020, com uma única diferença: me parece que o número aumentou.
Dias atrás estive em Tiradentes e três palavras me chamaram a atenção pela repetição contínua nas fachadas de bares e restaurantes: bistrô, gourmet e empório, onde o menu elenca molhos de frutas exóticas e ervas com nomes cada vez mais estranhos.
Neles, um prato individual não sai por menos de R$ 60, e a quantidade de comida já seria pouca se o preço fosse a metade.
Parece que começa a ficar difícil encontrar a comida básica, boa, simples, honesta, bem servida e de preço ao menos razoável.
O importante não é comer bem, mas comer com charme descolado e posar de adepto da inventividade culinária.
E toma-lhe de gente dormindo na rua, pedindo resto do bandejão ou do self service ralé
Estranho esse país que cada dia mais se gourmetiza e que ao mesmo tempo, miserável, morre ainda mais de fome.