Perguntaram a Mahatma Gandhi se ele perdoava certo ofensor seu.
Ele respondeu que não.
Diante do espanto – como podia Gandhi, aquele santo, não perdoar? -, ele explicou: não há o que perdoar, não me senti ofendido.
Estou milhões de anos luz atrás da elevação moral de Gandhi, mas como cristão não me sinto nem um pouco ofendido em minha fé e crença com o episódio de fim de ano do programa Porta dos Fundos.
Não me importa se no episódio Jesus é gay e Maria é prostituta.
Fosse passível de comprovação histórica, não reduziria o quilate de seu comprometimento com a melhoria do ser humano.
É bem mais importante para um cristão lembrar-se de que Jesus não estava preocupado com a orientação sexual de ninguém (nem com a cor da pele, nem com a própria crença).
Mais do que ofender a crença de outrem, nós, cristãos, passamos séculos matando em nome de Deus e do próprio Cristo; dizimamos povos para impor a fé que acreditávamos correta, e até hoje muitos de nós olham com preconceito, agridem ou, no mínimo, tratam debochadamente irmãos adeptos da umbanda e do candomblé.
Toda grita e celeuma em torno de A Porta dos Fundos vão bem além da questão religiosa.
É muito mais a treva que se abateu sobre esse país novamente querendo algemar e amordaçar quem não reza por sua cartilha falso-moralista.
Deixemos que cada um tenha a visão que queira ter sobre Jesus, sobre o cristianismo, sobre batata doce com ovo cozido ou sobre a zaga do Madureira.
Vamos, em vez de nos preocuparmos com o alheio, aproveitar que é natal e tentarmos pôr em prática o que ele nos ensinou.
Se por acaso seus ensinamentos estiverem mesmo ainda muito acima da nossa capacidade moral, Gandhi já é bom começo.