Poema sem título e inédito
A água cai
E some pelo ralo
sem utilidade,
desperdiçada.
É que no canto do boxe
Ele hesita em se molhar.
Do alto do pescoço
Comtempla a própria nudez
E o ebulir da virilidade.
Toca-se com a mão nervosa
E, por fim, resolve-se,
Posto que a solidão
É o que há para hoje
E o que parece que haverá
Nos próximos tempos,
Sem que nem mesmo os céus
Arrisquem dizer até quando.
Boca língua beijo saliva
peitos bicos de peitos
bunda
e a fenda mais desejada
da humanidade:
é uma sequência
de recortes de imagens
inundando a mente
que o empurra numa
velocidade
entre a da luz e a do som
para um delicioso
choque elétrico
que lhe escala as pernas
e sobe para explodir na alma,
cerrando seus olhos,
desenhando em seu rosto
o sorriso maravilhado
que é o mesmo
de todos os homens
desde a criação das pedras.
Recompondo a respiração,
Ele enche com água
A mão em concha
E lava o jorro viscoso
Que vagaroso
Desliza pelo azulejo
Em direção ao piso.
A seguir
Deita-se úmido e nu na cama,
Pois é noite de verão
Noite de sonho desejo
ausência e falta.
Lembra-se dos cabelos
De mel claro
Espalhados no lençol,
Dos diáfanos olhos vivos
Feito pássaros sobre o mar,
Do sorriso que ora é santo
Ora, profano,
Quando conta divertida
Do que lhe encharca
E desce pelas pernas.
Nesse instante,
Ele sente um aperto
Um quase desespero
Por não ter
Para onde correr
E encontrá-la.
Vira-se para o lado
Em que ela estaria deitada
E sem solução
Abraça o vazio.