Existia em Brasília, até alguns meses atrás, um bar que era bem mais do que isso. Era um polo de boa música; aliás, ótima música.
O Feitiço Mineiro atravessou os anos sendo referência de qualidade em matéria de shows na capital do país. Boa parte da nata da MPB se apresentou ali.
Quando o primeiro dono morreu, há mais de dez anos, os que assumiram mudaram o nome para Feitiço das Artes, mas com a mesma pegada.
A decadência, no entanto, começou a mostrar suas garras não apenas na qualidade da programação, mas no próprio espaço. Paredes, portas e janelas sem pintura e emolduradas páginas amareladas de jornal com reportagens dos tempos de glória remetiam aos já distantes anos 90.
O Feitiço não resistiu. Acabou, para a tristeza da música, da cultura e de quem mora em Brasília.
Nenhum empresário do ramo se animou em ressuscitá-lo, e então, o apetite pelo lucro do mercado farmacêutico transformou em farmácia – fria, asséptica e metálica, como cabem às farmácias – o que era espetáculo, aplauso, cantoria.
Antibióticos e outros tantos venenos, em uma quadra onde já existem outras duas farmácias, tomaram o lugar onde o produto era a música.
Às vezes dá vontade de mandar o Brasil ir se “fudê”, começando por Brasília.