A postura do Papa, ao não degolar a pessoa por sua opção sexual, causa boa impressão e talvez desperte a esperança tímida em mudanças, muito mais alardeadas, aliás, pela mídia e sua vocação para a idolatria do que propriamente por algo que Francisco tenha dito.
Mas quando o pontífice fala das mulheres, essa esperança se aquieta e pensa em voltar a dormir.
O mais novo bem amado de uma nação eternamente em busca de um salvador é categórico: sacerdócio não é coisa de mulher.
Fico sabendo que a Igreja desconsidera a batina para as mulheres porque Jesus só escolheu homens como apóstolos.
Penso que é no mínimo a velha e desacreditada tentativa de impor como única a versão oficial da história. O papel que a mulher desempenhou no cristianismo, a começar por Maria Madalena, é certamente algo abafado por uma instituição que, historicamente, sempre esteve ladeada pelo poder, e na maioria das vezes a serviço da opressão.
Qual prova definitiva há de que o Evangelho não foi também escrito e pregado por mulheres? Seria o desconhecimento da existência de algum texto que leve a história a caminhar nesse sentido? É pouco para comprovar algo que o domínio da batina sempre se esforçou em mostrar como verdade absoluta.
A frase “sacerdócio não é para mulheres” é escrita com a mesma tinta e caligrafia que se escreve “lugar de mulher é na cozinha”.
As declarações de Francisco I sobre os homossexuais até podem sugerir igualdade entre as pessoas, mas igualdade é que nem bolo em casa de família: todo mundo tem direito a uma fatia.