Para Renata Busch
Quando finalmente se conheceram fora do Feici, ela contou entusiasmada o quanto falavam bem dele. Como pessoa, como profissional. E despejava uma cascata volumosa de palavras, de um modo vibrante de quem acha mesmo que não apenas a vida, mas também as pessoas valem a pena.
E repetia que era encontrar gente que o conhecia, e lá vinha outra vez o certificado: bom amigo, sujeito de caráter.
-Eu me sentia roubada. – e riu, mexendo os braços em gestos largos.-Pô, todo mundo conhece esse cara, menos eu!- e suas mechas de mel despencavam longas em seu rosto, escondendo uns olhos de amêndoas tostadas.
Encabulado, ele, quando conseguiu afinal a palavra, ponderou:
-Olha, não é bem assim, sabe? Eu já fui chefe de seção e aí a gente não agrada todo mundo, com certeza tem uma meia dúzia por aí que me quer assado com um tomate na boca. Então, fica preparada, porque você pode topar com um deles e vai achar que não falam da mesma pessoa.
Mas ela não perdeu o rebolado, e com aquele jeito carioca de falar e jogar sambado o cabelo para trás, disse, sem nenhuma dúvida:
-Pois se alguém vier me falar mal de você, eu enfio a porrada!
E soltou uma gargalhada que encheu o ambiente.
Naquela noite, ele foi dormir pensando nuns tais anjos que a mãe falava quando ele era criança, uns anjos que nós, distraídos, muitas vezes nem notamos ao longo da vida, mas que, insistentes, sempre aparecem para nos resgatar dos braços da tristeza.