O Brasil e seus sofás nas salas

Funcionários de uma empresa que presta serviços ao Aeroporto Internacional de Brasília fizeram manifestação reclamando o pagamento de uma série de direitos. Pelo que li, a empresa é enrolada com falcatruas e deslizes trabalhistas.

Não discutindo a justiça do protesto, é, mais uma vez, pertinente contestar a forma como foi feito: fecharam por três horas a única pista que dá acesso ao Aeroporto da capital do país. Imagine-se o tanto de gente descendo dos táxis e correndo com mala na mão para não perder o voo.

Repito: sou a favor que se pare o trânsito, a cidade, o país e o mundo por uma causa que diga respeito a toda a sociedade. Por questões afetas apenas a um pequeno grupo, não concordo.

Mas, no caso, o objeto central acaba não sendo nem esse, mas sim a imobilidade da administração pública para beneficiar o cidadão.

Como já disse, só existe uma pista rumo ao Aeroporto JK. Nos jornais de hoje, as autoridades discutem como construir uma via alternativa que chegue ao terminal, porque as cercanias são quase todas áreas de preservação ambiental, intocáveis – com toda razão – de acordo com a lei.

Só que não se trata de construir outra via. A que existe é suficiente, ainda mais que está sendo ampliada. O que deve ser feito é simples, porém, no Brasil, autoridade não rima com coragem. Determine-se que nenhuma manifestação classista pode interromper o trânsito, simplesmente porque existe uma regra que remonta aos primeiros tempos da civilidade: o direito de um termina onde começa o do outro. Portanto, quem quiser protestar que berre o dia inteiro se necessário, mas em cima da calçada, sem parar a vida dos outros. Se for pro meio da rua, terá que sair.

Mas não, no Brasil se dá uma volta enorme quando a saída está debaixo do nariz, embora incorra, muitas vezes, em ônus político.

É um bom país, mas com um talento enorme para resolver seus problemas tirando apenas o sofá da sala.

1 comentário em “O Brasil e seus sofás nas salas”

  1. Hugo José

    Tem muito espertalhão querendo motivos, mesmo que ilógicos, para ganhar dinheiro com obras.

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