O gigante e o anão

Há uma tentativa de desqualificar o movimento que tomou conta do país nas últimas semanas dizendo que ele é organizado por jovens bem nutridos e formados. Com ironia, dizem que o tal gigante que acordou foi criado à base de pera e Ovomaltine.

É fato que muitos participantes, e não são poucos, cospem na história dos movimentos sociais, fomentadores dos partidos de esquerda, cuja luta nos últimos anos permitiu que houvesse manifestações iguais a essas, embora a PM, às vezes, não pareça ter sido avisada.

Se pudessem, certamente, bradariam em praça pública que negro só pode entrar em universidade pública se houver estudado em colégio caro, o que é quase uma impossibilidade no Brasil. Gritariam, também, que aqueles com cara de doméstica ou porteiro deveriam continuar viajando pro Nordeste nos ônibus da Itapemirim. Nada de avião.

Mas aí entra a miopia de quem está contra, principalmente no PT. Não querem enxergar que a periferia também, talvez aos poucos, em menor escala, está indo às ruas. Portanto, também estão gritando os que foram criados à base de aipim cozido, pão simples e água de poço, e que, aproveitando a brincadeira de fazer metáfora, seriam o anão raquítico e faminto, essa dor e vergonha que a injustiça impinge à história do país.

E o PT, principalmente, não quer enxergar que se distanciou dessa gente, que se hoje dá para comprar geladeira, máquina de lavar e TV, o hospital continua péssimo, o ônibus, pior ainda, e a escola do filho não ensina direito. Ou seja, nada de muito diferente de dez anos atrás.

O problema não era só criar uma nova classe média. É também dar a ela condições de viver como classe média.

Agora, são dois gritando: o gigante, pretensamente, contra a forma velhaca de fazer política – cujo pecado o PT sempre prometeu não cometer -, e o anão, porque quer mais do que abrir crediário e equipar a casa.

E merece.

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