Sobre concursos públicos

Peço perdão se estou mal informado, mas li várias reportagens sobre as novas regras para concursos públicos e não encontrei em nenhuma delas qualquer menção à exigência da publicação de bibliografia nos editais.

Já está decidido que será maior o prazo entre a publicação do edital e a prova, e que a participação em fraude desclassificará o candidato, o que é, enfim, a oficialização do óbvio. Entretanto, com a nova lei, as organizadoras de concursos públicos poderão continuar formulando questões de provas a partir dos livros que quiserem e bem entenderem – o que é direito delas – sem terem a obrigação de informar quais serão essas obras – o que seria direito dos candidatos -.

Essa exigência talvez não seja importante para os cargos em que a exigência maior são as disciplinas ligadas ao direito, no qual o eixo do estudo é formado pela lei, pela doutrina e pela jurisprudência.

Mas em áreas como comunicação social, por exemplo, a divulgação da bibliografia adotada pela banca traria, certamente, mais equidade à disputa por uma vaga no serviço público.

A todo instante, livros são publicados com diferentes e (pretensas) inovadoras interpretações sobre assuntos inerentes ao universo da comunicação, algumas delas inteiramente distantes da realidade prática do jornalismo e, creio eu, também da publicidade e das relações-públicas.

Alguns anos atrás as bancas organizadoras justificaram a ausência de bibliografia nos editais com o argumento de que isso beneficiaria editoras de livros usados como fonte de estudo. Ora, pior é a desconfiança de que a ausência de bibliografia nos editais possa favorecer determinado grupo de candidatos, especialmente os recém saídos das universidades, sobre quem a banca tem a certeza de que conhece esse e aquele autor, cujos livros foram exaustivamente estudados.

2 comentários em “Sobre concursos públicos”

  1. Se, por um lado, as editoras de determinados livros são máquinas de ganhar dinheiro, por outro lado, as organizadoras de concursos se beneficiam da imensidão de concorrentes com preparo capenga (graças à falta de orientação e bibliografia) que vão passar anos fazendo as provas – motivo de faturamento para as empresas que promovem os concursos.

  2. Nossa. Chegamos ao ponto onde o conhecimento é censurado pelo capitalismo e a experiência sobrepujada pela “cuca fresca” dos neófitos.
    Assim o concurso é para concurseiros não para profissionais. Que especialistas teremos no futuro?

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