CHACAL: 40 ANOS DE CULTURA

Por Alexandre Pilati*

 

A editora 7letras acaba de lançar o livro UMA HISTÓRIA À MARGEM, do poeta carioca Chacal, uma das figuras mais emblemáticas da cena cultural do Rio de Janeiro dos últimos 40 anos.

Nesta obra, o poeta narra histórias da sua longa trajetória de produção poética e agitação cultural nas ruas do Rio de Janeiro. A obra começou a ser escrita como uma espécie de introdução à coletânea de poemas BELVEDERE, de 2007, também publicada pela 7letras. Para satisfação dos leitores, o texto acabou ultrapassando as vinte páginas iniciais e ganhou a forma de uma longa narrativa de memórias, organizada em tópicos que contemplam as diversas fases da atividade do autor. E o motivo para estender o fio da memória para o início da década de 70 e abandonar a poesia para se entregar à prosa memorialística, segundo o próprio poeta, é a fase da vida em que ele se encontra. Chacal completa 60 anos em maio de 2011 e diz estar naquela idade em que se gosta de contar histórias para lidar com “a saudade de outros tempos.”

Os tempos da poesia marginal

Um dos nomes mais significativos da poesia marginal carioca dos anos 70 e 80, Chacal foi também um dos mais ativos autores dessa geração que procurou novos meios de difusão e de expressão poética. Basta lembrar que, nessa época, Chacal integrou o grupo de poetas “Nuvem cigana”, o grupo de teatro “Asdrúbal trouxe o trombone” e o bloco “Charme e simpatia”. Anos mais tarde, Chacal foi a figura central da criação do projeto CEP 20.000, que tem como objetivo levar a poesia de uma forma livre e libertária a diversas regiões da capital fluminense e também do estado do Rio de Janeiro.

A grande marca desse verdadeiro ativismo cultural dos chamados poetas marginais cariocas, é a sua vivência coletiva da experiência cultural. Para Chacal tantos outros fazer cultura não é uma atividade solitária, é sempre uma soma de vivências e de experiências no sentido da criação e da poesia. A própria montagem do texto de UMA HISTÓRIA À MARGEM seguiu esse princípio coletivo. Chacal o elaborou a partir das próprias memórias, de pesquisas na Biblioteca Nacional e na Internet e também em depoimentos de amigos que vivenciaram os fatos, que, segundo ele, contribuíram com visões diferentes da dele acerca dos acontecimentos. O resultado, segundo Chacal, é que as suas memórias viraram um livro a várias vozes.

Chacal: um grande poeta contemporâneo

A poesia brasileira contemporânea está cheia de grandes poetas. Nesse cenário, é ainda mais importante ressaltar a qualidade da poesia de Chacal. Chegando à maturidade da vida e da poesia, o autor ainda guarda características que o fizeram uma das vozes originais e fortes da poesia dos anos 70 e 80.

Desde aquela época, seus versos se caracterizam pelo humor, às vezes desaforado, o olhar nada solene para o cotidiano, e a dicção da fala de todo dia, que apresenta belas surpresas àquele que se deixar levar pela sua poética “marginal”.

Aqueles que quiserem conhecer um pouco mais da obra do carioca, podem encontrar em BELVEDERE, uma excelente oportunidade de contato com a poesia ágil, leve e inteligente de Chacal. Nesse livro está reunido o melhor da sua poesia, inclusive com uma edição facsimilar do primeiro livro lançado por ele, ainda nos tempos do mimeógrafo.

E para mostrar que o poeta marginal também não pára no tempo, Chacal lançou este mês um blog, em que publica fotos, vídeos e textos que remetem à sua história e à história da cultura carioca de fins do século passado até hoje. O endereço do blog carrega o título de suas memórias: umahistoriaamargem.blogspot.com. 

 

*Eu e Alexandre Pilati conversamos sobre literatura todas às 2ªs feiras, às 16h51, na BandNews FM – 90,5 -Brasília.

 

Pequeno conto das reminiscências

Vinha devagar com o carro, por isso percebeu logo o casal na esquina. Tendo a lua como abajur, o rapaz, encostado ao poste, enlaçava com decisão a moça pela cintura. O vigor dos beijos era o mesmo dos braços dele em torno dos quadris modelados dela.

Pouco antes do primeiro retorno, resolveu voltar. Da outra pista, via mais distante os apaixonados. Retornou de novo para a pista junto à calçada onde os dois derretiam na solidão perigosa da noite na cidade. Reduziu ainda mais a velocidade em relação à primeira vez, e também aproximou o carro do meio-fio. Ao mesmo tempo, abaixou o vidro do carona.

Há quanto tempo não fazia aquilo, desde as noites de bolso vazio na metade dos anos 80, quando seis ou sete adolescentes, medíocres conquistadores sem talento, voltavam das festas sem beijos ou amassos, empilhados no chevette velho do otário mais velho da turma. Era por inveja e molecagem, às vezes uma pesando mais do que a outra, que infernizavam a vida dos apaixonados madrugada adentro.

Então, quase parando, esticando o corpo para a direita e tentando manter o carro em linha reta, berrou de pulmões cheios:

Aperta que ela peeeeeeidaaaaaaa!!!!!!

E acelerou para sumir na escuridão da avenida.

Ouvindo Alceu Valença

O sol nasceu no meu Ipod

Passou pelo cabo auxiliar

Conectado ao toca CD

Saiu pelos alto-falantes

E foi se espalhando pelas ruas

Transbordando da janela do meu carro.

ANJOS DA DESOLAÇÃO, DE JACK KEROUAC

Por Alexandre Pilati*

 

Já está nas livrarias do país o livro ANJOS DA DESOLAÇÃO, do escritor norte-americano Jack Kerouac. A obra é pela primeira vez publicada no Brasil e representa um dos símbolos da geração beat, que marcou o pontapé inicial do movimento de contracultura nos Estados Unidos. ANJOS DA DESOLAÇÃO é uma transcrição praticamente direta dos diários de Kerouac, escritos a partir do verão de 1956. Nessa estação, o autor trabalhou por 63 dias como vigia de incêndios no Desolation Peak (Monte da desolação), um pico situado no estado de Washington, no extremo Noroeste dos Estados Unidos. Lá, rodeado pela natureza e diretamente confrontado com a finitude e com a solidão, Jack Kerouac escreve um texto ao mesmo tempo poético e inquieto, que demonstra um homem que em busca de respostas sobre o mundo acaba encontrando consigo mesmo.

ANJOS DA DESOLAÇÃO é um dos livros mais autênticos de Kerouac, onde se pode encontrar uma das últimas experiências “on the road” antes do lançamento do livro que leva esse título e que em português ficou conhecido como Pé na estrada (também editado no Brasil pela L&PM). O título traz todos os principais beatniks como personagens em aventuras pra lá de envolventes. Para quem quiser conhecer melhor o espírito beat, é uma excelente pedida.

A GERAÇÃO BEAT

A “geração beat” é como usualmente se chama no meio literário um grupo de artistas norte-americanos, principalmente escritores e poetas, que atuaram nas décadas de 1950 e 1960. O que caracterizou a vida e a obra desses autores foi a sua atitude de questionamento da cultura estabelecida nos EUA. Isso os levou a produzir obras de contestação aos valores mesquinhos da pequena burguesia americana. Para rejeitar esses padrões, os beats levavam, muitas vezes, uma vida nômade, ou mesmo fundavam comunidades, que, dizem alguns, são a origem das comunidades hippies. Além das obras de Kerouak, algumas das obras e autores mais famosos da geração beat são além das obras: Uivo (1956) de Allen Ginsberg e Almoço Nu (1959) de William S. Burroughs. O estilo que une essas obras é o da contestação, tanto ideológica quanto formal, das tradições culturais americanas. Por isso, os beats utilizam recursos do surrealismo, abusam das inovações lingüísticas e da prosa caótica muito próxima da fala cotidiana. Alguns críticos chegam a comparar o estilo desses autores ao jazz norte-americano, cheio de improvisos e recursos de estilo.

O ANJO BEAT NA ESTRADA – JACK KEROUAC

Uma das figuras centrais desse movimento é Jack Kerouac, autor de ANJOS DA DESOLAÇÃO. Ele pode ser considerado o grande porta-voz do beats e também uma das referências de todo o movimento de contracultura que se desenvolveria nas décadas de 60 e 70 na América e no mundo. Nascido em 1922, Jack Kerouac ganhou a vida com diversas ocupações, o que certamente forneceu a ele “munição” para criar suas histórias tão peculiares e tão abastecidas de vida real e sinceridade. No Brasil, a editora responsável pelo lançamento de suas obras é a L&PM, que já publicou, além de ANJOS DA DESOLAÇÃO, outros títulos importantes como o autobiográfico On the road – Pé na estrada e A geração beat, livro em que ele apresenta a ideologia e o trabalho dos beatnikcs. 

 

*Eu e Alexandre Pilati conversamos sobre literautra toda 2ª feira, às 16h51, na BandNews FM, 90,5 – Brasília.

 

Sobre concursos públicos

Peço perdão se estou mal informado, mas li várias reportagens sobre as novas regras para concursos públicos e não encontrei em nenhuma delas qualquer menção à exigência da publicação de bibliografia nos editais.

Já está decidido que será maior o prazo entre a publicação do edital e a prova, e que a participação em fraude desclassificará o candidato, o que é, enfim, a oficialização do óbvio. Entretanto, com a nova lei, as organizadoras de concursos públicos poderão continuar formulando questões de provas a partir dos livros que quiserem e bem entenderem – o que é direito delas – sem terem a obrigação de informar quais serão essas obras – o que seria direito dos candidatos -.

Essa exigência talvez não seja importante para os cargos em que a exigência maior são as disciplinas ligadas ao direito, no qual o eixo do estudo é formado pela lei, pela doutrina e pela jurisprudência.

Mas em áreas como comunicação social, por exemplo, a divulgação da bibliografia adotada pela banca traria, certamente, mais equidade à disputa por uma vaga no serviço público.

A todo instante, livros são publicados com diferentes e (pretensas) inovadoras interpretações sobre assuntos inerentes ao universo da comunicação, algumas delas inteiramente distantes da realidade prática do jornalismo e, creio eu, também da publicidade e das relações-públicas.

Alguns anos atrás as bancas organizadoras justificaram a ausência de bibliografia nos editais com o argumento de que isso beneficiaria editoras de livros usados como fonte de estudo. Ora, pior é a desconfiança de que a ausência de bibliografia nos editais possa favorecer determinado grupo de candidatos, especialmente os recém saídos das universidades, sobre quem a banca tem a certeza de que conhece esse e aquele autor, cujos livros foram exaustivamente estudados.

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