Amigo meu, tendo visto seu castelo no plano amoroso desabar repentinamente, tentou desabafar com um parente próximo. No lugar do consolo e do ombro amigo, recebeu a frase dura e as mãos vazias de afeto: ah, tem tanta gente morrendo de fome na África e você sofrendo por causa de um namoro.
Tão errado quanto achar que a nossa dor é a mais lacerante do mundo é desprezar a dor do semelhante, relegá-la ao plano das ‘desimportâncias’ face ao tanto de sofrimento e injustiças que desde sua criação se abate sobre a crosta deste pequenino planeta que flutua na imensidão.
Dor é dor. Da perda de um filho a de um animal de estimação. Do brinquedo quebrado da criança ao emprego do qual se foi mandado embora. Do amor que julgávamos sendo o de nossa vida à traição do amigo que tínhamos como irmão.
Não cabe contabilidade para se chegar ao resultado de que a minha é maior ou a dele dói mais. A escala da dor é interna e traçada de acordo com a capacidade de cada um em suportá-la.
Não ache que a dor do outro é menos importante do que as mazelas terrenas.
Por outro lado, viva a sua com a intensidade que ache necessária, até porque a dor também leva ao aprendizado.
Não é por isso que você vai deixar de se preocupar com a fome na África.