Qualquer senso crítico mais aguçado perceberá que algumas práticas corriqueiras e históricas no serviço público são absurdas.
Isoladamente podem até não ser, mas repetidas automaticamente, dia a dia, ao longo de décadas, tornam-se absurdas devido justamente ao montante considerável de tempo.
Na inciativa privada, quem quiser tomar o cafezinho que move melhor a roda do expediente tem que pegar na copa. Em alguns casos, a própria pessoa precisa fazer.
No serviço público, uma copeira uniformizada prepara o café para que um garçom vestido de pinguim percorra todas as salas de uma repartição servindo cada um, de mesa em mesa.
Ao longo dos anos, o salário de cada copeira e cada garçom nas repartições públicas saiu do bolso contributivo do trabalhador.
O Brasil tem uma vocação nata de servir – com tons de bajulação – a quem na verdade é pago para servi-lo.
No Congresso Nacional há elevadores privativos destinados aos deputados e senadores, como se eles fossem pessoas de casta superior que não pudessem se misturar a quem, de forma direta, os colocou lá e trabalhando paga os impostos que lá os mantém.
Mas, claro, privilégio não é privilégio do Legislativo. Dia desses, no Ministério da Saúde, um dos elevadores esperava há quase meia hora com a porta aberta e ascensorista lá dentro, com cara de paisagem. É que a qualquer momento o ministro sairia do gabinete com destino a algum compromisso.
O servilismo tupiniquim a deputados e senadores é o mesmo que parece achar que a saúde no país para ficar melhor ou pior depende de o ministro esperar ou não o elevador chegar.