Quando detinha poder, aquele político influente na cidade, e durante algum tempo relativamente conhecido em nível nacional, era assediado em todos os lugares aonde ia.
Chegar perto dele era tarefa para os ombros e os braços.
Explico.
Era preciso usá-los para empurrar o cordão de puxa sacos e pedintes de favores e benesses.
Não largava o celular, passava a metade do tempo ocupado com seus pares na política. A outra metade falando com os jornalistas.
Nem seus assessores mais diretos conseguiam dele a atenção que queriam e precisavam para resolver pendências, pedidos, conchavos, puxasaquismos.
Uma vez, tendo próximas as eleições e vendo que seria tarefa árdua bater o concorrente ao Senado, disse a um dos assessores: “Em porta de político sem mandato, nem o vento bate”.
Não venceu as eleições.
No dia seguinte, o assédio sobre ele já era menor, e a cada dia foi se fazendo menos intenso. Praticantes de conchavos e bajuladores foram logo procurar quem os satisfizesse os interesses nos próximos anos.
Passado mais de um ano, num evento qualquer num meio de semana que deu certo movimento à noite na cidade, o agora ex-assessor conversava numa roda de conhecidos, quando sentiu lhe tocarem por trás os ombros.
Era o outrora dono do poder e da influência.
Conversaram bem alguns minutos, um querendo saber o que andava fazendo o outro.
O político mantinha a simpatia de quando pedia votos e fazia promessas. A conversa foi interrompida apenas duas vezes, para um cumprimento rápido de quem ainda nutria certo reconhecimento pelos feitos nos tempos de poderoso.
No fim da noite, terminando o evento, o político foi embora sozinho, balançando as chaves do carro.
E naquela noite não ventava.