Eu inventei um trem pra vir pra cá.
Eu venho de um lugar
onde os vizinhos dão bom dia
as mães vigiam os filhos nas calçadas
entremeando conversas no portão de casa
e os chamam para dentro
quando a noite cai.
Eu sou de um lugar
onde ninguém fala
inglês francês alemão
e a maioria só conhece
aeroportos e monumentos
das novelas da noite
dos filmes dublados.
Cabeças pequenas
corações grandes e férteis
sem pretender tanto
sem se afligir quase.
Eu inventei um trem pra vir pra cá.
Um trem que sai de longe,
de onde a cidade acaba.
Vim trazendo o assobio triste
dos em paz com a vida
e essa feia e verdadeira
flor de subúrbio
pra te entregar.
1994.
Lindo este poema, André. Onde foi parar este lugar???