O politicamente correto é mesmo chato. Desde que passou a fazer parte do linguajar nacional, e obrigado a todos nós a tê-lo como caracterísitca de nosso comportamento, parece que perdemos um pouco da espontaneidade.
Não propriamente amordaçados, mas vigiados por uma patrulha que sabe-se lá se não carrega também uma enorme carga de preconceitos, nós próprios nos vigiamos nas piadas, nos comentários, nas atitudes, nos pensamentos, cuidando para que estes não se tranformem em palavras e nos levem à delegacia mais próxima.
Recentemente o humorista Dedé Santana lembrava uma excursão que Os Trapalhões fizeram a um país africano. Na chegada, foram engolidos por uma multidão de fãs, obviamente, todos negros. Nessa hora, carregado nos ombros, Renato Aragão vira-se para Dedé e diz “Vamos pintar o Mussum de branco, se não a gente perde ele”. Não sei se hoje em dia Renato Aragão teria paz depois dessa piada, feita para brincar com um companheiro e amigo de trabalho.
Também não sei se a brincadeira com determinada caracterítica física deverá ser sempre condenada.
O problema é que alguns humoristas acharam por bem combater a chatura do politicamente correto de forma bem diversa da piada de Renato Aragão, e de como, por exemplo, Chico Anysio brincava com os judeus por meio do “seu Samuel Blaustein”, na Escolinha do professor Raimundo.
A título de se oporem ao que chamam de “a babaquice do politicamente correto”, na verdade têm destilado preconceito contra toda aquela gama de pessoas com características alvos de piadas. E de discriminação.
O politicamente correto serve para que se vigie a fronteira entre a piada e o preconceito, colocado ultimamente nos palcos a título de liberdade de expressão. Misturar em uma anedota o negro, a noite ou a escuridão de um lugar provavelmente não passará disso, de um anedota – da mesma forma que colocar um alemão branquelo em um dia de sol na areia branca da praia. Chamá-lo de macaco num teatro vai muito além; chega ao território do crime. Piadas de cunho sexual são ótimas, mas o estupro como seu ingrediente não tem a menor graça. E fere a dignidade humana.
O público deverá ser o juíz, condenando ou não – a depender da própria qualidade moral – ao ostracismo o humorista que insistir no caminho da discriminação. E aí, talvez os excessos do politicamente correto sirvam de instrumentos a uma sociedade imperfeita.
Somente com o exercício do senso crítico a sociedade poderá disernir entre o politicamente correto e o politicamente chato. As novas versões do Pica-Pau e Tom & Jerry politicamente corretos, mostraram-se tão sem graça quanto o humor agressivo do Rafinha Bastos, por exemplo.
Não são as piadas que se tornaram tendenciosas, mas nós nos sensibilizamos mais pela atitude do outro, É uma madureza moral que conquistamos. E hoje com a reflexão do, politicamente correto, damos mais um passo para no progresso moral. A discussão da moralidade chega ao campo ético. E falta pouco para nos reconhecermos como irmãos em Cristo.