Minha mãe não passava pelo Café Palheta, na Praça Saens Peña, sem parar para tomar um. Ela e o Rio de Janeiro quase todo. As atendentes deviam ter LER de tanto cafezinho que punham em cima do balcão. Às nossas vistas, de cinco em cinco minutos, era passado um café novo, e seu cheiro conquistava a calçada, arrastando mais gente para dentro da loja.
Outro dia, no Aeroporto Tom Jobim, pedi um cafezinho no Palheta, acho que a única loja da marca que sobreviveu no Rio. Sabe aquele café coado na meia e que está há dois dias na garrafa térmica? Pois é, era quase assim. Contaminei com ele uma das melhores lembranças gustativas da minha infância. À atendente que reclamei, só restou me recomendar o café expresso.
Se for bem feito, o café expresso é gostoso. O problema é que no Brasil, na maioria das vezes, ele não é. Geralmente, é uma água fervendo, fraco ou forte demais, servido com biscoitinhos velhos, e em lugares pretensamente bem “transadinhos” e moderninhos, onde o atendimento, quase sempre, deixa muito a desejar. O preço, claro, está lá em cima, em patamar oposto ao da qualidade.
Não conseguimos copiar o espresso italiano, que é servido morno e com apenas um dedo, muito porque não soubemos, mas também muito porque não quisemos, já que brasileiro acha que bom é só o que há em quantidade, o que vem em demasia.
O fato é que o costume imposto do café expresso parece ter mesmo acabado com uma de nossas mais caras tradições: o café fresco, passado na hora, tomado em pé no balcão, adoçado com açúcar posto naqueles grandes açucareiros de vidro esverdeado.
Alguns anos atrás ainda tomava um cafezinho assim no Aeroporto Santos Dummont, mas há muito não passo por lá. Se ainda existe, que resista a essa ditadura “cafeinada”, cara e sem gosto.
Caso parecido é da pipoca, com seus combos e pacotes de micro-ondas.
Mas isso é assunto pra depois.
Provavelmente é.
Creio que em São Paulo seja o lugar onde se encontre o café mais parecido com o italiano.