
Em uma das quadras da Asa Norte, dito bairro nobre de Brasília, há um cabo de guerra entre moradores por causa de uma simplória família de gatos.
É que alguns colocam água e ração para os bichanos que, com a despensa garantida, não abandonam as redondezas.
E aí começa a birra dos outros vizinhos, incomodados com a presença dos gatinhos.
Soube que há discussão esquentada em grupos de zap por causa da pensão completa aos felinos.
O síndico de um dos blocos já até mandou que porteiros vigiassem quem se aventura na compaixão pelos animais.
Não sei o que alegam e, sinceramente, quando passo pelo local, não vejo que transtorno os gatos podem estar causando.
De uns tempos para cá, as vasilhas de água e comida começaram a aparecer viradas.
O mínimo conhecimento sobre gatos informa que não é da espécie sair virando prato onde comem e bebem.
Outro dia, um dos gatinhos apareceu morto.
Era novo ainda, e segundo quem entende de bicho, pela expressão ele morreu sentindo dor, o que ampara a hipótese de envenenamento.
Não cravo que em caso dessa maldade, quem a tenha praticado seja capaz de fazer o mesmo com um ser humano, embora acredite que seja incompatível amar pessoas e odiar animais.
Mas revela, no mínimo, que essas pessoas possuem uma capacidade incomensurável de não tolerar o próximo com suas diferenças.
E capacidade de alastrar a intolerância pela vizinhança.
E até mesmo fazer com que ela chegue ao poder.