A exposição ComCiência, da artista plástica australiana Patrícia Piccinini, é impactante em vários aspectos.
Por motivos óbvios, o aspecto visual é o primeiro deles.
O segundo impacto, bem mais suave, é quando percebemos que aos poucos fomos envolvidos pelo amor e doçura expressos nos traços perfeitos dessas estranhas criaturas.
Onde deveríamos sentir repulsa, palpita a ternura – mesmo que ainda tomada de estranhamento -, porque, embora feitas de material sintético, as esculturas transmitem vida. Muita vida. Devido à exatidão dos traços, nem é preciso tanta imaginação assim para considerarmos que elas respiram e podem se virar para nós a qualquer momento, sorrindo e dizendo algo.
O outro impacto é quando sabemos que uma das intenções da artista foi denunciar práticas como racismo e xenofobia.
O choque ocorre porque, num primeiro momento, não cabe em nossa cabeça qualquer ligação entre aquelas formas perturbadoras e esses tipos de posturas abomináveis.
Mas isso é só num primeiro momento, pois logo logo a gente percebe a relação direta entre a expressão das figuras e o recado pretendido pela artista.
O último impacto, ao menos no meu caso, é sentido no final da exposição, e permanece por várias horas depois. E é ele o mais perturbador. É quando a gente fica sabendo que a exposição também se propõe a discutir pesquisas e mutações genéticas.
E depois que passa a vontade de rir porque lembramos da lenda da figura do cheester e da carne do hambúrguer do MaCdonald’s, sobrevêm receio, angústia.
É que a ficha cai e a gente para pra pensar se em algum dia, em alguma sala secreta de algum laboratório, tudo isso que inspirou Patrícia Piccinini já não aconteceu, acontece e vai acontecer muito mais.