Cinema Real

Assisti à Tropa de Elite 1, três anos atrás, muito mais por obrigação do que por vontade própria. Existem certas coisas que precisamos fazer – no caso ver – para não ficarmos por fora do debate, mais ainda quando a matéria prima de nosso trabalho é a atualidade.

Poucas vezes saí de um filme me sentindo tão “pesado” quanto daquela vez. Trago na memória a cena em que o casal é executado no alto da favela como uma de minhas mais horripilantes lembranças cinematográficas. Naquela noite dormi mal, acossado pelo medo de um monstro criado pelo Estado e pela sociedade.

O filme, entretanto, foi importante à época porque expôs o interior de uma Polícia esfacelada pela corrupção, Polícia paga com nosso dinheiro para nos proteger, mas que na verdade nos ameaça. Fundamental também foi a luz que lançou sobre a obviedade: quem usa drogas é responsável pela violência do tráfico. Ora, é uma lei de mercado: se há venda, é porque há gente interessada em comprar. Ou será que o Bill Gates ficou rico por outro motivo que não a venda dos produtos que sua empresa criou? Tropa de Elite incomodou outra elite, a das coberturas da zona sul do Rio e de outras cidades brasileiras, que continua querendo não correr riscos enquanto puxa seu fumo e cheira seu pozinho.

Mas passado esse debate necessário, a volta do Capitão Nascimento, ao contrário, me parecer agora desnecessária. Embora já tenham me dito que o segundo filme é melhor do que o primeiro, sendo menos violento e mais “político” no sentido de denunciar o Estado podre que nos administra, acho que a continuação de Tropa de Elite soa a sensacionalismo, enxergar na violência o caminho das cifras. E pelo jeito estão certos, pois nesse feriado mais de dois milhões e meio de pessoas assistiram ao filme.

Não critico quem foi e quem irá assistir, talvez Tropa de Elite 2 traga novas reflexões sobre esse universo aterrorizante da venda, do consumo, do combate e das vítimas do tráfico de drogas. Mas agora eu passo, já me basta o peso de ser acuado pela violência do cinema real de nossas cidades.

3 comentários em “Cinema Real”

  1. curioso.
    na época do primeiro, achei o nascimento um tolo que não compreendia a profundidade do problema. p q ele não investigava quem levava a droga pro morro?
    agora a discussão é mais profunda, dizem.
    ainda não vi o filme, quero degustar as opiniões primeiro.

  2. Ainda não assisti, mas dizem que este é melhor que o primeiro. Também não gosto de filmes violentos, já basta a realidade que vivemos. Mas parece que este filme aborda a realidade atual das milícias no Rio de Janeiro, mostrando a ligação da própria polícia com esta. Toda denúncia tem seu valor.

  3. Pensei muito se iria ou não assistir ao 2. Como na TV assisti ao 1 e tive o mesmo peso que você descreveu já me tenho decidido. Mas a continuação declara o óbvio, para comentar o óbvio. E pior, talver, com o esclarecimento do óbvio, tudo continue obviamente como está. Os burros zurram, as aves piam, e a polícia…

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