Acabei de ler Espalitando, do Paulo Bono, nesses primeiros dias de 2024, mas o considero como leitura de 2023, pois comecei em dezembro.
Eu poderia dizer apenas que foi, ao lado de Berro, do Leonardo Almeida Filho, o melhor livro de contos, e um dos melhores no geral, que li no ano passado.
Mas acho que preciso dizer mais.
Paulo Bono escreve do jeito que se deve escrever: sangrando, com as tripas do lado de fora, sem a limpeza monótona e formatada das tais escolas de escrita criativa de hoje em dia.
Ele não carrega as bandeiras que parecem obrigatórias na literatura que tem sido feita nesse país rachado entre o fascismo e a defesa de direitos e conquistas.
Sua bandeira, ele mesmo um cara que deve ser alvo das fobias da discriminação, parece ser geralmente uma: trepar, algo que, aliás, boa parte de quem frequenta rede social precisa fazer com urgência.
A busca de levar uma mulher para cama é o mote de várias histórias, como Quase um ano sem foder, um dos contos mais engraçados que li em toda a minha vida e que me faz passar mal de rir (em outras histórias o riso também é garantido).
Mas essa procura não é o único embate de Espalitando.
Os contos de Bono iluminam personagens derrotados e fracassados que nos fazem pensar o quanto somos iguais a eles em diversos momentos de nossas vidas (por isso saboreamos tantos as vitórias e as conquistas), sempre com uma linguagem direta e diálogos fortes, recheados de palavrões que, muito bem empregados, não são linguagem chula, mas sim necessária.
Paulo Bono escreve sem compromisso além daquele que o faz se sentir em paz com o que escreve e consigo próprio.
Em outras palavras, ele toca o foda-se e não quer passar de bonzinho, limpinho e engajado.
E eu toco o foda-se pra dizer que gostei pra caralho.