Em algum lugar o Lago é “democrático”

O projeto original do urbanista Lúcio Costa para Brasília previa que o Lago Paranoá fosse margeado por uma grande área comum, destinada a que as pessoas desfrutassem livremente da maior atração natural da capital do país. Creio eu que a idéia de Lúcio era que o Lago fosse para o morador de Brasília, e quem a viesse visitar, o que a praia é para o carioca, ou seja, referência de lazer e convivência.

A politicagem das relações na capital do país, regidas em boa parte dos casos pela promiscuidade, não permitiu a concretização de muitos dos conceitos de Lúcio Costa para a cidade. O usufruto democrático do Lago Paranoá é um exemplo. Endinheirados o suficiente para erguer mansões e “amansar” as autoridades, os milionários da cidade fecharam praticamente todos os acessos ao lago, justamente com seus casarões cinematográficos que ocupam as chamadas áreas públicas. Nos poucos pontos onde é possível se chegar à beira do Paranoá, o mato e o abandono campeiam, até porque ocupar com criatividade espaços públicos e abandonados não é um dos talentos de Brasília.

Exceção à regra é o Parque Península dos Ministros, situado no ponto mais nobre do Lago Sul, por sua vez bairro mais nobre da cidade. Lá, uma mistura de ciclovia e pista de cooper e caminhada, cercada de belíssimas árvores, permite que as pessoas curtam uma das mais belas paisagens da cidade em que nasceram ou escolheram para viver. Sua localização o torna uma espécie de crème de la crème, e por isso chega a ser irônico que justamente lá o Paranoá seja democrático do jeito que foi pensado originalmente. Aliás, não apenas o Lago, mas toda uma cidade que era para ser de todos, e que a usura transformou num privilégio de poucos.

3 comentários em “Em algum lugar o Lago é “democrático””

  1. giovani iemini

    certa época conversei com alguns politiqueiros sobre a possibilidade de criar um projeto de revitalização dos parques à beira do lago, como a ciclovia do lago norte. a resposta foi a indiferença. nem pensam em trazer pro lago o povão. preferem manter a invasão, como a da qi 02 do lago norte.
    ê brasília, ê brasil.

  2. Denise Giusti

    Muito bom, André o seu texto! Espero poder conhecer essa parte do lago na próxima ida à Brasília!

  3. angela giorgio

    Ótimo texto!!! As incoerências de Brasília… Compartilhei no FaceBook, o blog!
    abs

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