Histórias em quadrinhos levadas a sério.

Por Alexandre Pilati (www.alexandrepilati.com.br/blog/)

 

Há muito tempo histórias em quadrinhos não são só coisa de crianças e jovens em busca de aventuras de super-heróis. Nos últimos vinte anos, o mercado dos quadrinhos se desenvolveu bastante, procurando atingir o público adulto, com autores que trabalham temas antes restritos a obras de ficção tradicionais, tais como os romances, os contos e as crônicas. Assim os quadrinhos têm alcançado o status de arte séria, deixando de lado os heróis com poderes mágicos e suas fantasiosas peripécias para enfocar problemas do cotidiano e apresentar personagens que exponham a complexa condição dos seres humanos comuns.

A importância dos quadrinhos para adultos no mercado editorial brasileiro, hoje em dia, é tão significativa que há diversas livrarias que separam seções inteiras para contemplar os lançamentos da área e cada vez mais editoras têm se dedicado a publicar autores de quadrinhos adultos nacionais e estrangeiros. É o caso da editora Companhia das Letras, que está entre as mais importantes do país, e que criou um selo apenas para publicar quadrinhos voltados para o público adulto o Quadrinhos na Cia. Uma das maiores estrelas desse selo é uma artista iraniana chamada Marjane Satrapi, que tem uma das obras em quadrinhos mais contundentes da sua geração.

Um grande talento da arte contemporânea do Irã

Marjane Satrapi nasceu em Rasht, no Irã, em 1969, e atualmente vive em Paris. É filha de uma família que cultivava a educação e a consciência política emancipadora e que, na infância, estudou no liceu francês de Teerã. Marjane tem sangue nobre, pois é bisneta de um imperador de seu país e teve uma educação que combinou a tradição da cultura persa com valores ocidentais e de esquerda. Aos catorze anos, graças à delicadíssima situação da guerra Irã-Iraque, ela partiu para o exílio na Áustria, e algum tempo depois retornou ao Irã para estudar belas-artes. Seu estudo e o seu talento para a escrita e a ilustração fizeram com que ela se estabelecesse sem dificuldades na França. Mas o mais importante é que Marjane tinha muita história para contar graças à sua vivência entre dois mundos que ela aprendeu a conhecer e a amar desde menina: o ocidente e o oriente.

As obras de Marjane em português

Desde 2004, a Companhia das Letras vem editando no Brasil o trabalho de Marjane. A estreia aconteceu com o primeiro volume da aclamadíssima série Persépolis, que na verdade é uma autobiografia em quadrinhos. Nessa série, que teve os quatro volumes reunidos em um único livro em 2007, os olhos da menina Marjane e a consciência política à flor da pele da artista adulta criam uma história que emocionou leitores de todo o mundo e que, só na França, vendeu mais de 400 mil exemplares.

Outro livro de Marjane publicado no Brasil é Frango com ameixas, em que a autora conta a vida de uma pessoa que ela admirava muito desde menina, o seu tio Nasser Ali, que era artista como ela. Essa biografia é, na verdade, um belo manifesto em favor da liberdade de criação artística e também da arte como possibilidade de exposição de elementos profundos da humanidade. O tom predominante é triste, mas isso não impede que o humor se infiltre nos quadrinhos, o que prova que Marjane Satrapi é, certamente, uma grande intérprete de seu país.

Neste ano de 2010, saiu em português o volume Bordados, em que Marjane se aproveita de um costume tradicional do Irã, uma reunião de mulheres para costurar e conversar, (ou como se diz no Brasil “tricotar”) para expor diversos dilemas da condição sexual feminina em seu país. Entre os “bordados” do título vão aparecendo casamentos malfadados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos que são narrados com a ironia que é tão peculiar à autora. 

 

1 comentário em “Histórias em quadrinhos levadas a sério.”

  1. HUGO GIUSTI

    Boa dica André. É bem interessante, vou procurar esses quadrinhos de Marjane Satrajpi. Valeu!!

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