O dia em que tomei um esporro do Ziraldo

Em minha vida de repórter, entrevistei muita figura ilustre, que de uns anos para cá se convencionou chamar de celebridades

Um desses figurões foi Ziraldo.

Em 2002, houve o centenário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, e eu propus à direção da Rádio CBN, onde eu trabalhava na época, fazer um programa especial de uma hora de duração.

Aceitaram e , claro, a batata quente caiu no meu colo. Eu já tinha trabalho de sobra e ainda inventava mais.

Pois bem, na lista de entrevistados estava o criador do Menino Maluquinho.

No dia da entrevista, havia alguma confusão no estúdio marcado para a gravação. Não me lembro mais qual era o problema, mas sei que entrei desconcentrado para perguntar ao Ziraldo o que eu queria saber e, por infelicidade, perguntei se ele conhecia o Drummond.

Tomei uma espinafrada que quase perdi o rumo.

“Porra! Claro que eu conhecia o Drummond. Substituí ele no Jornal do Brasil. Vai se informar antes de perguntar as coisas”, e ele justificou a fama de ranzinza e grosso que ouvi de algumas pessoas que com ele trabalharam.

Dizer a um jornalista que ele está desinformado é uma das maiores ofensas que se pode fazer a um profissional de imprensa, mas eu precisava da entrevista, Ziraldo era peça fundamental para o programa.

Pus a bola no chão e consegui tocar o assunto. Conversei com Ziraldo por quase uma hora, tempo em que ele imitou o poeta atendendo ao telefone (hilário) e disse que Drummond adorava falar, às gargalhadas, obscenidades e devassidões.

Contou ainda que numa roda de conversa entre poetas já de certa idade, um deles (pela minha memória era Otto Maria Carpeux) começou a destilar maravilhas sobre a velhice, tais como a experiência e a sabedoria, as quais Drummond retrucou: “Você tá maluco. Velhice é uma merda“, arrancando risadas de todos na roda.

O depoimento de Ziraldo foi extremamente rico e, obviamente, bem trabalhoso para editar, mas saí de alma lavada do estúdio, porque, depois da patada que levei, tomei coragem e perguntei o que ele havia achado da entrevista.

“Foi boa, foi boa. Gostei das perguntas”, e, com a mesma sinceridade com que me esculachou, o pai do Menino Maluquinho encheu a minha bola.

8 comentários em “O dia em que tomei um esporro do Ziraldo”

  1. Você tomou uma paulada e conseguiu se reequilibrar. Esse foi seu grande mérito, porque uma esculachada de uma celebridade no início da entrevista pode arrasar tudo. Abraço, André!

  2. Ádlei Carvalho

    Que bacana essa história, André! Eu queria ter ouvido ele imitando o Drummond atendendo telefone…

    Abraço!

  3. Raquel Madeira

    Que legal, André! Ser jornalista não é fácil, mas é gratificante. Especialmente quando o resultado é uma boa entrevista que fica na memória. Melhor ainda quando dá pra compartilhar os bastidores.

  4. Raquel Madeira

    Que legal, André. A experiência fica de exemplo. Ser jornalista não é fácil, mas é muito gratificante. Especialmente quando o resultado é uma bela entrevista.

  5. Raquel Madeira

    Que legal, André. A experiência fica de exemplo. Ser jornalista não é fácil, mas é muito gratificante. Especialmente quando o resultado é uma bela entrevista.

  6. Sonia Leal

    Muito Hilário e bem sucedido.
    Coisas de André Giusti.
    Gostei.

  7. Maria Cida Neri

    Imagino o sufoco inicial, mas ainda bem que saiu com uma boa impressão. O bom jornalista não se deixa abalar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima